Sobre a morte

De repente, um dia que parecia mais-do-mesmo, eis que surge a morte para nos tirar do comodismo, nos sacudir, virar nossa vida de cabeça para baixo até que tudo que carregamos nos bolsos da alma caia ao chão. Então vêm aquela experiência de limite, aquele silêncio emudecedor de pensamentos, o tempo não avança (sentimento de eternidade); as emoções se contraem, restando apenas aquele olhar nadificado no espaço. A morte nos deixou nu; de ego vencido nos contemplamos na morte do outro. Sim; tudo sempre se tratou de nós: A morte é a mudança da vida, a vida é o sentimento que temos pelas coisas que mudam. Nada morre em si, pois nada há que seja em si mesmo, que não esteja numa relação de coexistência. O que morre é a dependência dos sentimentos que tínhamos por aquele que morreu. O sentimento de ausência é a falta que sentimos de nós mesmos, daqueles sentimentos que antes a pessoa nos inspirava. A morte purifica, nos deixa solitários com nós mesmos, nos reinventa. Eterniza a vida, pois só é eterno o Devir.

Fiódor
Enviado por Fiódor em 23/08/2019
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