Funeral Infernal (2)
Quando criei o FI, pensei num nome que trouxesse a palavra "Funeral", primeiro por ser algo que invoca pesar e desgosto. E, talvez quase tão importante, por fazer referência ao Old Funeral -- verdadeira escola para formar o que mais tarde resultaria no Immortal e no Burzum. Por sorte, o adjetivo "Infernal" apareceu como uma rima que permite o perfeito encaixe, além de fazer oposição, numa relação paradoxal, à palavra "Funeral" (ora, espera-se que um funeral seja algo tranquilo, em que já bastam as dores e os pesares dos presentes, não?). Com isso eu quis causar uma ideia de morbidez, de enorme desgosto, de nojo. E, ao mesmo tempo, de um profundo sarcasmo. Algo que provocasse o riso que disfarça o choro interno. A proposta foi exatamente essa quando, em 9 de julho de 2002, juntei-me a dois conhecidos e resolvemos dar início aos nosso ensaios (que nunca ultrapassaram os dois encontros). Foi um momento único aquele, e que mantém em mim a sensação de dever ressucitá-lo, tão logo me seja possível. Nosso baterista, recentemente, numa breve conversa que tivemos, deixou claro que eu era o único membro vivo do FI. Daí que eu percebi que o FI sempre dependeu de mim para existir. Lamentavelmente ou não, é assim que as coisas funcionam quando não se pode esperar mais nada de ninguém. Resta ao músico juntar algumas economias e comprar cada instrumento e acessórios aos poucos e, quando tudo estiver somado, isolar-se em estúdio (ou algum local improvisado) e dali gravar suas demos. Sinceramente, não vejo nesse projeto musical uma chance de fazer $$$. Não tenho essa intenção, de modo algum. O que me parece mais adequado é distribuir demos pelo circuito undreground europeu e contar com a apreciação de alguns Metalheads que possam dar seu parecer quanto a ele.
Eu tenho guardado comigo algumas ideias prontas, que tenho produzido desde agosto de 2002 quando, antes da decepção que eu tive (com alguns amigos e mesmo com a música) e decidi me desfazer de minhas coleção de vinis e de CD. Me arrependo, sim, de ter me desfeito deles. Mas isso é passado. E a lição de cada dia é justamente essa: "Bravura é quando você acorda todas as manhãs para lutar contra os mesmos demônios que o deixaram cansado no dia anterior."
Eu tenho uma razão para dar prosseguimento a esse Projeto. O nome dele, hoje, remete diretamente a essas pessoas mortas que vivem por aí e com as quais temos de lidar, diária e incansavelmente. Alguns de nós traz anjos e demônios dentro de si. Que travam embates eternos. Cumpre que nós não deixemos eles se alimentar de nós. Creio que todo grande artista que segue sozinho, tocando todos os instrumentos de seus discos, é um vencedor. Não porque não perde nunca, mas porque se levanta mais forte e mais experiente toda vez que cai. Tornando-se um osso duro de roer. E, se o passado retorna, paciência. Aprendamos com essa maré ruim, desgostosa. Que toda a nossa angústia e dor se converta em música. E possa ser compartilhada com outros curtidores ao longo desse mundoente e deprimido.