Uma luta. O alvo? O Domínio Próprio

A imensidão de prazer encontrado na satisfação de nossa matéria só pode ser confrontada com a certeza das promessas de vida eterna concedida pelo misericordioso Deus, que age com infinita graça e aplaca sua ira sobre nós. O homem entregou-se a si mesmo, destarte, tornou-se vulnerável. Naufragou nos males resultantes da ausência do Criador, volveu-se um prisioneiro de seus instintos, sobretudo, de suas paixões. Este homem recusa a graça, regozija-se em prazeres efêmeros, embriaga-se de arrependimento e dores com aparência de infinito e, sim, o são.

Sem fim serão as dores e o febril arrependimento que decorre da falta de luta contra a própria natureza. Negar-se a si mesmo parece revestir-se de objetivos quase que inatingíveis quando uma população imensa e monstruosa incita a complacência com a ausência de pudor, de valores. São amantes do doar-se aos desejos, despreocupados com as consequências.

A racionalidade se esvai e o homem decide, sem análise, sem consultar o autor de sua história, tomar a pena e escrever impulsivamente seu caminho e trilhá-lo cegamente, entretanto, apontará o ser Divino, que hoje ignora, quando a lei da semeadura se fizer executável e, então, colherá o dolente. Erguerá o indicador, uma vez que é incapaz de olhar para si e reconhecer que as ações impulsionadoras foram suas. Reclamará o porquê da existência de Deus permitir que tamanho mal lhe sobrevenha, mas é, desde já, incapaz de reconhecer sua contribuição.

A entrega ordinária às paixões revela o que há de mais execrável em nós mesmos, desconhecemo-nos e pomo-nos assustados com nossas ações. Em oposição, o amor verdadeiro explora a moderação, embora analise os defeitos de caráter, continua a admirar o que há de belo e transcendente no ser amado. Não há insanidade nisso, o amor apenas escolhe enfatizar e estimular o bem, a beleza, mas nesse instante falo apenas do amor Eros ou Philos, os quais ainda distam do perfeito e puro amor: o Ágape, pois, esse último é agente transformador, vislumbra os males e expurga-os para tornar o ser amado uma nova criatura.

Negar as próprias ambições é das maiores dificuldades que se enfrenta. Submeter-se à vontade do Ser Sublime que não se pode vislumbrar, se não por olhos espirituais, é dos maiores desafios. Somos induzidos por nosso interior a lutar por uma superioridade ante nossos opositores, mas a lógica divina é inversa, e convida-nos à humilhação, todavia, é nesse submeter-se ao outro que encontraremos exaltação, ou seja, é subordinando nossos impulsos ao caráter divino que eles serão moldados.

A submissão aprimora-nos, porém essa tarefa é árdua. Há uma luta entre o que sabemos que devemos fazer e o que de fato queremos ou fazemos, assim, não poucas às vezes nossos discursos tornam-se hipócritas. O certo, o bem estão cravados em nossa mente, contudo, o palpitar de nossos íntimos desejos querem se aventurar em desafios que estimulam a perda. Perdemo-nos, desconhecemo-nos e confrontamos os paradoxos que nos habitam numa mistura insana que não culmina em moderação, no entanto, em provocações que só podem ser perpassadas com a doação absoluta ao Deus que nos gerou para si e molda-nos conforme sua vontade. Moldados, já não viveremos em nós mesmos, mas Cristo viverá em nós.