Hoje eu chorei fazendo pipoca
Eu como pipoca quase todos os dias e hoje não foi diferente, já era noite, todos da minha casa estavam dormindo enquanto eu estava na cozinha esperando os milhos estourarem.
Não estava pensando em nada, tudo estava em silêncio quando o primeiro estouro aconteceu, eu ri com a ideia de que meu namorado teria se assustado com o barulho se estivesse ali comigo, ele se assusta com facilidade, por isso não gosta de filmes de terror que eu o obrigo a assistir, quase ninguém que eu conheço gosta de filmes de terror porque não gostam de sentir medo.
“Porque você gosta? Não tem medo?”
Eu sempre respondo que não, não tenho medo, porque monstros, demônios e entidades não são reais.
Mas ali sozinha na minha cozinha, em silêncio, depois do primeiro estouro do milho, me caiu a ficha. Eu tenho medo o tempo todo, toda hora, não é medo de morrer, não é nada complicado, tenho medo das coisas simples, eu tenho medo de viver. Tenho medo de não ser o suficiente, tenho medo das coisas que já fiz, tenho medo do que terei que fazer amanhã, do incerto, da continuidade.
Às vezes eu até tenho medo de sair de casa.
Ansiedade anda de mãos dadas com a depressão, e a gente normalizou tanto o estilo de vida de “uma pessoa normal e trabalhadora”, que ignorou todos os sentimentos envolvidos em ser uma pessoa.
Naquele momento, na cozinha, me veio tudo o que eu tinha empurrado goela abaixo, o entendimento que eu tenho medo irracional de tudo 24 horas por dia, que eu sou diagnosticada com ansiedade generalizada, que luto contra isso por anos, que eu posso sim me dar uma brecha, um descanso dessa rotina corrida e cuidar um pouco mais da minha saúde antes que eu esqueça de novo de ser uma pessoa.
É,
Hoje eu chorei fazendo pipoca.