Fuja dos Rótulos

Terça de manhã. Você está fazendo compras no seu mercado local, andando pelos corredores olhando todos os produtos à procura do que você precisa. Olhando pelas prateleiras você vê cada um com seu rótulo, de cores diferentes, tamanhos e marcas diferentes… E o que todos têm em comum? Bem, todos eles dizem o que ele faz e do que ele é feito. Você então compra e chegando o momento de consumir você vê que ele não é exatamente aquilo que estava na embalagem, e por quê? Você tirou suas conclusões pelo rótulo que te fez pensar que poderia saber TUDO sobre o produto, e o que estava fora desse “tudo” te levou a ficar decepcionado.

Te lembrou alguma coisa?

Não vou falar de produtos aqui, mas dos rótulos que você assume na vida. Atualmente mais do que nunca, existem rótulos para TUDO. Todo mundo na hora de falar de si vem com algum “Eu sou ‘isso’, eu sou ‘aquilo’, eu sou ‘aquilo outro’.” Todo mundo quer ser alguma coisa, todo mundo quer se DEFINIR. Não percebeu? Fica 5 minutos no youtube e você vai descobrir um monte de gente que é “Youtuber”, “gamer”, “streamer”, “Blogger”, “Vlogger” e várias outras definições que as pessoas irão atribuir a si logo no início dos vídeos.

É inerente ao ser humano, todos nós buscamos algo que nos defina, todos nós queremos poder dizer que somos “alguma coisa”, ninguém gosta do vazio de estar perdido sem saber quem é, e para isso buscamos rótulos. Na sociedade temos tribos, grupos, todos definidos por rótulos. “Funkeiros”, “Roqueiros”, “Pagodeiros”, “Crentes”, “Macumbeiros” (Esse é usado erroneamente de forma pejorativa).

E todos nós quando fomos nos apresentar à pessoas novas usamos alguma coisa para nos definir, seja como “Introvertido”, “Extrovertido” ou alguma outra coisa para definir nossa personalidade, quem nós somos.

No fim somos sempre livros abertos em busca de uma capa.

Mas o que ninguém vê está em uma frase que abriu completamente a minha mentalidade:

“Quem se define, se limita”.

Não de um jeito superficial, essa frase me fez enxergar que a partir do momento em que você se liga a um rótulo, se define com algum adjetivo ou alcunha, você se insere em uma série de características e estereótipos que só irão induzir outras pessoas a formarem pré julgamentos sobre você, correndo o risco de ser tido como falso ou mentiroso caso demonstre outras características que fujam dessa imagem.

No meu primeiro texto compartilhei o exemplo de ser cristão e tatuado, e como isso tem efeito no meu dia a dia. Aos olhos da sociedade, essas duas características são coisas distintas. Quando falo que sou cristão, já imaginam que não bebo, não fumo, e entre várias outras coisas não faço tatuagem. Se me veem tatuado, logo pensam que não devo ser cristão. E quando falo da minha fé, entre as várias reações está muito espanto, como se não pudessem existir cristão com tatuagem.

Isso foi só um exemplo para mostrar que cada classificação carrega uma série de características que irão induzir as pessoas a criarem uma imagem sua, com base na definição que for atribuída à você, independente dessas características realmente fazerem parte de você ou não. E, sem exceção, toda definição carrega seu estereótipo e a partir do momento em que você se associa com alguma, passa a carregar esse estereótipo também.

Como eu já disse hoje existe rótulo para tudo, definições para qualquer pessoa se classificar como quiser. Quando falamos de política logo vem a dicotomia “Direita x Esquerda”; Se você buscar na internet por coisas relacionadas às relações entre homens e mulheres logo vai encontrar um mar de termos, siglas e definições como “Feminismo”, “MGTOW”, “PUA”, “INCEL”, “Red Pill”, “Black Pill”, entre muitos e muitos outros, todos usados por diversas pessoas para expressarem quem são, suas crenças, estilo de vida, ou procurarem pessoas com pensamentos semelhantes.

Bom ou ruim? Nem um nem outro, você tem que rejeitar todo rótulo que você vê por aí? Não. A questão é: esse excesso de rótulos deixa cada vez mais de lado a individualidade das pessoas em nome de imagens ou pensamentos de grupo. Cada vez menos se definem por QUEM SÃO, mas sim por uma característica que os une aos outros. Você pode se associar a grupos ou ideias, isso é natural. O ponto é: NÃO SE LIMITE A ESSAS CARACTERÍSTICAS PARA DEFINIR QUEM VOCÊ É.

Você pode ser “roqueiro” e também gostar de Jazz e Blues, você pode ser “de direita” ou “de esquerda” sem cumprir 100% das cartilhas de cada lado, você pode ser cristão e aprender bons valores com outras filosofias de vida sem deixar sua fé, você pode ser “nerd” e curtir praia, festa e esportes…

“O inferno são os outros”. - Jean Paul Sartre.

As pessoas podem criar uma imagem de você, os grupos dos quais você faz parte podem criar uma imagem sua, coisas que você gosta de fazer, de consumir podem criar uma imagem de quem você possa ser. Mas você não precisa assumir essas imagens, você não precisa vestir essa camisa, ELAS NÃO TE DEFINEM! Porquê além destas, você tem inúmeras outras coisas que formam quem você é, que constroem a sua essência, nada externo te define. Só você.

O ser humano é uma pilha de segredos. Cada pessoa é um universo diferente, formada por milhões de coisas, ideias, crenças, pensamentos, modos de ver, modos de viver… inúmeras características e pontos diferentes que a constroem e que sem cada um deles, ela seria alguém completamente diferente. Então você realmente acha que deveria se resumir a apenas UM desses pontos?

I R Britto
Enviado por I R Britto em 08/08/2019
Código do texto: T6715420
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