REDUNDÂNCIAS
Às vezes me pergunto: quantas mentiras são necessárias para que alguém se destrua por completo? Certa vez fui cobrado da forma mais inesperada possível pela verdade. Questionou meus gostos, minhas opiniões, meus planos para o futuro. Insistiu em dizer o que eu era, da pior forma que se pode descobrir, através das palavras de quem mais se quer o bem.
Esconda suas vontades, converse olho a olho com a verdade e diga todas as mentiras possíveis. Agora só espere o sinal para a desgraça.
Não se trata de puritanismo, de santificação, nem de religião, se trata do quanto está disposto a lutar para esconder o que sente de todos à sua volta. Se trata de subjetividade, com aparência de objetividade. Se trata do quanto está disposto a sacrificar uma visão crítica das coisas para definir um futuro feliz. Afinal, muita gente por aí feliz é mentirosa.
Primeiro você entra na vida de alguém, dizendo que fará de tudo por essa pessoa. Depois, você descobre que nunca esteve certo quanto a isso. E por último, essa pessoa realmente faria de tudo por você. E aí? Qual a melhor saída? Por isso nem todos os condenados estão encarcerados em penitenciárias. Há muitos condenados por aí. À deriva. No espaço primordial da sociedade: a escolha. Ou você é bom, ou você é ruim. Não existe o meio termo.
As pessoas criam eufemismos, se enrolam com pleonasmos, instituem novos códigos penais que nem sequer estão de acordo com a leis da moral e do poder legislativo. Elas forçam a ilusão de que nada aconteceu, mas com um míssil teleguiado em você. Acham que está cego e não pode ver toda a redundância desse sistema. Tenho pena disso.