Os dilemas da política.
É na Grécia antiga que o termo política surge, com a criação da pólis, Cidade Estado grega e um espaço público de discussão e debate sobre a coisa pública chamado de ágora. Para eles a política era coisa séria, mais que direito de todo o cidadão, a participação política era um dever inalienável. É certo que nem todos eram considerados cidadãos, apenas os homens acima de 21 anos que fossem nascidos gregos.
O auge da democracia grega é marcado pela prevalência da vida coletiva sobre a vida individual, ou privada. Eles entendiam que se a coisa pública estivesse indo bem, naturalmente suas vidas particulares, logo sem seguida se encaminhariam. Por isso, participar da política e ser político era também uma afirmação da vida em todos os seus sentidos. Quem se negava em participar da política era chamado de idiotes, ou idiota em tempos modernos, era levado ao ostracismo, isolamento. Para eles quem se negava em participar da política estava na realidade fazendo a negação de si mesmo e de sua vida. Política era coisa séria e tinha como objetivo o bem da pólis.
É certo que esse significado grego de política tenha se perdido no decorrer do tempo, mas isso não significa que ele tenha perdido a sua importância. Embora muitas vezes não pareça, a política continua sendo a atividade mais elevada que poderia existir dentro de uma sociedade. Embora muitas vezes marcada por escândalos de corrupção e exercida por pessoas que não estão interessada pelo bem coletivo, ela é a única forma de sairmos da paralisia e da inércia social, rumo ao progresso geral da humanidade. É verdade que quando mal feita e ignorada também pode levar à desgraça e à destruição.
Em tempos tão difíceis como os nossos, com tantas decepções no campo da política, muitas vezes é difícil acreditar em uma solução ou em uma saída possível. Todavia, não devemos nos apressa, nem generalizar, como diria Hannah Arendt, não podemos “jogar fora a criança junto com a água do banho”. Uma análise atenta pode mostrar que muito do se faz hoje nunca foi nunca foi e nunca será política, está mais para politicagem com interesses estranhos a verdadeira função e finalidade da política.
O progresso geral só acontecerá quando entendermos que somos seres políticos, e isso significa se importar, buscar entender o que está acontecendo na sociedade, cobrar a efetividade das ações públicas, se interessar pela coisa pública. A política não se faz apenas pelos “políticos de plantão”. A política não é uma profissão, mas um imperativo humano que pode nos conduzir ao bem coletivo. Somos políticos porque não conseguimos viver sozinhos e consideramos a vida em sociedade muito mais agradável.
A atividade política exige que olhemos para além do nosso próprio umbigo, exige que tenhamos uma perspectiva crítica a respeito do mundo e de nós mesmos e exige também que façamos uma reflexão sobre as consequências de nossas ações enquanto seres sociais. Exige que façamos uma reflexão sobre o nosso presente e o nosso futuro. Que presente temos? Que futuro queremos?
Fazer política de forma séria exige esperança, responsabilidade e compromisso com o futuro de nós mesmos e das próximas gerações. Exige empatia e simpatia pelo coletivo e pela vida social, exige que pensemos para além dos nossos interesses privados e muitas vezes mesquinhos. Sabemos que esse é um exercício difícil e para muitos quase impossível, mas não há outra saída se quisermos ver a evolução da humanidade em todas as suas dimensões.