Eu prefiro me abster do mundo
Há momentos em que a gente se imerge nas próprias ausências e não sabe direito como exteriorizar nada.
Há dias que sinto-me profundamente mergulhada nos meus próprios medos, inquietações e insanidades; e não me sinto apta para discorrer sobre esses dias escuros e tempestuosos que se fazem aqui dentro.
Com o fechar e abrir dos novos ciclos, há coisas que foram quebradas e consertadas no seu devido tempo. e outras que ainda perecem no meu íntimo como ferida aberta.
Eu sou moldada por espaços impreenchíveis e sentimentos que não cabem no papel, nem em conversas de botecos e festas barulhentas que não falam nada ao meu coração abarrotado de sensações.
Eu prefiro o silêncio que fala pelos olhos ao alvoroço das relações verbais compartilhadas.
E eu prefiro me abster do mundo exterior quando eu chego a conclusão de que, tudo que eu não sei, é como pertencer.
Há algo inemendável em mim, por isso eu me escolto do barulho de fora e trago pra dentro só o que não é palpável, só aquilo que eu enxergo e ninguém mais vê e que me encanta, mas também faz com que eu me sinta ainda mais terrivelmente só.
Me forço a pensar que é possível ser amada sem me sentir tão invadida ou menos oca, mas a verdade é que não consigo encontrar uma forma bonita e apresentável, de dizer e de aceitar que eu sempre serei esse tipo de solidão que nunca se vai, esse vazio que nunca é preenchido por completo, um coração que nunca se aquieta.
Me pergunto, como afinal, me sentir assim, mas em contrapartida, tão capaz de amar incondicionalmente? Enclausurar-se no próprio espírito, às vezes é necessário.