O Futuro do País em Nossas Mãos (21/03/2016)
Confesso ter ficado comovido com os movimentos sociais ocorridos na semana passada, o que ajudou a alimentar minha esperança, jamais perdida, de que dias melhores virão. Eu também estive lá no domingo. Mesmo não concordando com todas as ideias defendidas pelos oposicionistas ao governo, acredito que o inconformismo, o desejo de mudança e a nossa atitude frente às ações imorais mostradas no cenário político nacional realmente têm um poder transformador e pode nos conduzir à evolução.
Entretanto, apenas uma semana se passou e já penso que talvez esses dias melhores não cheguem tão cedo. Por quê? Por causa de nós mesmos, brasileiros. Penso que também temos muita responsabilidade pelos problemas que enfrentamos no país, sejam eles econômicos, políticos, de saúde ou educação. Observo diariamente em nosso comportamento, como cidadãos, as mesmas atitudes ultrajantes que condenamos em nossos governantes.
Ultrapassamos pelo acostamento, tirando vantagem daqueles que respeitam normas de conduta. Somos capazes de “sair no tapa”, na frente de nossos filhos, por uma discussão banal no trânsito. Reclamamos dos professores quando repreendem nossos filhos mal educados. Pedimos ao nosso amigão para que nos assine a lista de presença e assim não repitamos o ano por faltas. Contamos mentiras para justificar nossos atrasos. Procuramos exercer nosso papel de cidadão, mobilizando milhões para protestar e deixamos um imenso rastro de lixo nas vias públicas. Pedimos atestado falso para não trabalhar, e por aí vai.
Aliás, sobre este último item, observo: muitas vezes estando bem empregados, reclamamos de “ter que trabalhar”. Afinal, trabalhar dá um trabaaalho... Talvez busquemos apenas um salário que compre nossos anseios e não verdadeiramente um emprego.
E quando nos indignamos com o programa bolsa família? Pois bem, pode ser que o bolsista esteja satisfeito com seu estilo de vida. Aí me pergunto: se uma bolsa sustentasse meu estilo de vida, será que eu me candidataria a ela? No meu caso, tendo condições de trabalhar, obviamente que não. Pois para consumir, sem produzir, certamente o faria à custa do trabalho de outra pessoa, o que definitivamente não faz parte dos meus valores.
Faço uma ressalva, para que fique claro, de que não sou contra programas sociais. Pelo contrário, acredito que são realmente necessários, mas desde que sejam sustentados única e exclusivamente em benefício da sociedade e que crie oportunidades, não comodidade.
Pensar sobre isso me leva a crer que, apesar de considerar necessária, não bastará uma simples troca de líderes políticos para que a situação do país verdadeiramente melhore. Assim como não bastará protestar no facebook e whatsapp e ficar apontando os erros dos outros. Essa mudança requer um movimento coletivo, precisamos sair da zona de conforto, dominar nossos hábitos nocivos que nos deixam letárgicos e ineficientes. Quem seriam os substitutos dignos de assumirem o comando do país?
Se quisermos combater a corrupção, então não sejamos corruptos, seja como dirigente da maior estatal do país, seja como condutor de trânsito autuado. Se quisermos combater a impunidade, então que sejamos justos, seja na hora de punir um criminoso, seja quando recebemos um valor maior que o devido no troco da padaria. Queremos respeito? Então que façamos por merecê-lo. Seja com decoro no parlamento, seja respeitando a vaga destinada a deficientes. Quando encontramos um amigo no meio de uma fila que precisamos enfrentar, devemos chamá-lo para o final desta se quisermos sua companhia e não juntarmo-nos a ele, respeitando os que chegaram antes de nós. Achamos um absurdo o desvio de dinheiro público estampado diariamente em todos os jornais. Afinal de contas, esse dinheiro é nosso! Pois é, se apropriar de um bem alheio é roubo, sejam alguns milhões dos cofres públicos, seja uma caneta de uma repartição pública.
Acredito que Sérgio Moro realmente merece nossos aplausos efusivos pelo seu empenho, coragem e compromisso frente à Lava Jato. Mas precisamos também agir diariamente com o mesmo senso de justiça e verdade desse juiz que tanto aclamamos.
Vamos às ruas sim, lutar pelos nossos direitos, protestar contra a ingerência política e econômica do país e contra o descaso do governo frente às necessidades públicas. Precisamos, contudo, fazer valer nosso protesto através de nossas atitudes. Mantendo nossa mente sempre atenta, para que consigamos pensar, falar e agir de maneira alinhada às nossas aspirações. Não espero que sejamos perfeitos, mas ao menos mais coerentes.
Estou longe de querer parecer um falso moralista. Também reconheço que já cometi inúmeros erros. O que proponho aqui é que reflitamos para que saibamos agir com mais consciência, pautados pela ética e com bom caráter, não apenas motivados por discursos inflamados de oportunistas da situação.
Posso estar sendo chato e repetitivo, mas sinceramente prefiro um chato repetitivo que me faça rever minhas condutas a um amigo que me saudaria com “um tapinha” nas costas se eu agisse como um "espertão" e tirasse vantagem indevida sobre os outros. É aquele que me fará evoluir e me tornar um marido, irmão, filho, amigo ou cidadão melhor do que fui ontem.
E se não encontrarem fundamento em meus dizeres, por favor, que me ajudem a encontrar lucidez.
Que tenhamos luz, firmeza, coragem e consciência nessa luta para construirmos um país melhor e verdadeiramente mais democrático.
Namastê.