Mendigos e Poetas
Vejo mendigos na rua,
Vejo a pobreza.
Olho, uma vergonha nua,
E disfarço com uma leve estranheza.
Vejo que o frio maior
Não é dos corpos nas calçadas,
Mas no gelo dos nossos corações,
Diante de pessoas abandonadas.
Não distinguimos se a sujeira na esquina
É um lixo que deixamos cair num lugar,
Ou de seres, pessoas vivas
Que tentamos ignorar.
São animais velhos
Que perderam a serventia.
São escravos descartados,
E sacrificados pela economia.
Mas o cheiro é de gente
Que não tem mais pudor,
Que perdeu tudo,
E só tem na verdade a própria dor.
Depois dobro a esquina,
Meu olhar se volta para mim.
Retorno aos meus problemas,
Estes também não tem fim.
Penso que eles estão dormindo,
Descansando, deitados na terra.
Mas eles esperam, pacientemente,
Se preparando para uma guerra.
Somos todos mendigos,
Uns não tem casa, nem futuro.
Outros não tem sensibilidade,
E acabamos criando um muro.
Estamos fracos,
Gente triste e muda,
Estendemos as mãos,
E imploramos por uma ajuda.
Para uns, um trocado,
Qualquer centavo alivia,
Para outros, que já tem grana,
Imploram por uma companhia.
Sozinhos seguimos,
Mendigos pedintes,
Poetas solitários,
Implorando ouvintes.