Qual futuro do futuro?
Qual futuro do futuro?
Por Padre Jorge Ribeiro
www.pjribeiro.blogspost.com
jorgeribeiroribeiro@gmail.com
O que nos reserva o amanhã? Sempre é hoje, amanhã é sempre cogitação, possibilidade e esperança. O futuro é chance de viver o hoje de maneira mais consciente. Viver do futuro é tarefa de cartomante, adivinhos e sonhadores. O realista vive o hoje como sua única ocasião de ser e fazer o que se acha oportuno e possível. Certamente o futuro carrega um alento e uma energia que pode impulsionar para não se deter no marasmo do conformismo e da rotina, mas é sempre na realidade atual que de fato se vive.
Mas qual futuro tem o futuro? Ele é consequência das escolhas, das atitudes e das decisões do hoje. O que nos espera com tantas variações de caminhos e com essa pluralidade de ideais? Que projeto pode ser sustentado em um mundo relativo e que tão velozmente se transforma? Que tipo de garantia ou estabilidade pode existir quando o subjetivismo, o modismo e o utilitarismo ditam as regras da vivência e da convivência? Como fazer ciência, filosofia e traçar pensamentos que direcionam quando o regimento é baseado nos quereres e conveniências?
Será possível construir relações sólidas, amizades, família, religião e amar de verdade, que requer tempo e perda dos interesses pessoais em função dessas e outras experiências que dignificam e valorizam, mas não portam imediatos objetivos? A estruturação das instituições, geralmente e atualmente, estão trabalhando para que a pessoa se emaranhe no consequencialismo e nos resultados e não pensem na realização como estado de vida e sim como forma de ostentar. Essa lavagem cerebral pessoal e social faz a pessoa se sentir absoluta, dona da verdade e imperiosa, mas não prepara para reconhecer os próprios limites, fragilidades e fraquezas. A corrida ambiciosa por ter, aparecer e mostrar tem originado injustiça, ganância, corrupção e intolerância, originando uma desonesta competição e um disparate de desigualdes. A paridade de oportunidades e de direitos é praticamente uma normativa, mas que não se aplica.
O que nos reserva o futuro? O que se pode fazer para transfigurar essa fenda aberta? Como sanar essas chagas que se construiu em nome do progressismo e da modernidade? Que humanismo se pode esperar depois de tantas feridas e decepções? Quem ou o que pode salvar ou restaurar toda essa atmosfera? Faz mister não se deixar abraçar pelo pessimismo, pelo desespero e nem pela depressão. Alias, a crise hodierna foi cavada e desenhada faz tempo e agora se colhe os frutos. Trata-se de recolher as migalhas e os fragmentos e construir algo inovado e diverso. Reconhecendo com humildade os erros, os desvios e os acertos também. Com atitude de suspeita, arrogância e supremacia não se desvenda nada promissor ao futuro.
As novas tecnologias, o mundo virtual que se impõe e as diferentes tendências alternativas precisam ser acolhidas e revisitadas para que sejam aliadas e beneficiárias para a humanidade e não serem instrumentos de autodestruição. Em si tais realidades são positivas, mas precisam ser bem conhecidas e bem usadas. Não basta a liberação de recursos e acesso a meios sofisticados para elevar o nível da humanidade. Um futuro sem futuro é um lastimável vazio que causa perplexidade e provoca violência como forma de sobrevivência. É preciso formação, atualização e acompanhamento. Em nome de um futuro derrubou-se todas as hegemonias, autoridades e a própria pessoa foi relegada a mera engrenagem de uma maquina impessoal e desumana. O futuro pode ser a casa da humanidade se e somente se a mesma humanidade se voltar aos princípios e valores primordiais, tais como acolhimento, tolerância, cuidado e afeição.