Nota de Agradecimento

Devemos ser gratos, dizia ela, sentada em sua poltrona enquanto me observa, me detalha em palavras técnicas em seus papeis brancos e bem recortados sobre a prancheta, e reclina-se fazendo com que a lente dos seus óculos reflitam as luzes solares da janela ao lado.

E eu sou grato, penso eu.

Inúmeras vezes deixei talvez de agradecer as pessoas, mas nunca deixei de me importar com tamanha intensidade o que cada uma fez por mim, já teve gente que me emprestou trocados para o lanche e me deram caronas que descansaram as minhas pernas, mas nada comparado ao que uma pessoa já chegou a fazer por mim.

Existe uma pessoa na vida de cada um que sempre se destaca, basta lhe conhecendo aos pés a cabeça. Uma vez, eu lembro que eu estava trancado em uma sala escura, onde meus gritos eram ouvidos por eu mesmo, mas para pessoas normais, quando gritam internamente é como se fosse um choro da alma escorrendo pelos seus olhos. Mas quando temos um pedaço dos sentimentos defeituosos, como eu gosto de chamar, acabamos sendo substituídos e agonizados por outra personalidade descarada, que me sabota e todos ao meu redor.

Eu me lembro das lágrimas e o tempo frio, como a vontade da minha cabeça ser decepada pelo trem, logo lembro do adeus e a noite mal dormida e ela insiste em me ligar, dizer que precisamos conversar e quer me entender mesmo assim. É estranho demais, sabe?

Uma vez que ela pega na minha mão, me lembra pra certas direções e acaba se perdendo, eu me perco em seu olhar e me esqueço de onde estou, mas ela chora baixinho e eu acabo escutando sua voz interior e tudo aquilo me põe para baixo. É duro ver ela chorar e não ver suas lágrimas, e quando as vejo acabo me quebrando como um vidro mal temperado, aos poucos.

Mas... Estamos aqui para ser gratos pelas nossas oportunidades, gratos pelas nossas atitudes, gratos pela originalidade de nossos sentimentos e diferenças da forma que nos amamos, somos gratos como a vez que você passou horas procurando uma fonte de um artista que eu gostava ou quando passou horas acordada preocupada se eu havia chego em casa.

Eu estava mal uma vez, e deixaste de dormir para passar horas conversando sobre nossos sonhos, na madrugada você costumava dormir cedo demais e acabou debaixo das cobertas para que a luz do celular não te entregasse. Você foge de sua cama para me acordar com um abraço e seus lábios em meu pescoço, recorta folhas e decora as paredes com coisas que eu gosto, compra bolo sabendo que eu não gosto e dá uma festa pois eu não tive a muito tempo.

Não lembro quantas vezes já te liguei em prantos, pois as vezes é normal você não saber seu lugar no mundo e querer desistir por não acreditar em si mesmo, mas logo que você atende eu percebo que meu lugar é ali, do seu lado. Você me conta as coisas mais bonitas, e lembra de coisas que se tornaram cinzas na minha mente, me faz enlouquecer quando põe as mãos na minha cintura e aos poucos estamos dentro de um abraço, e ali eu sei que estou seguro.

Depende do dia, sabe? Sempre digo.

E logo retorno a pensar em você, de como tudo se encaixa e miseravelmente parecemos um casal de séculos, mas eu possuo o medo de te perder por ser insuficiente, você já disse que eu lhe basto mas não sei se isso poderá durar muito tempo, mas como todos nossos problemas a gente acaba resolvendo comendo nossos lanches, trocando nossas memórias de lugar e formando palavras que entram em textos com bastante significado.

Já morri várias vezes, mas percebi que permaneço vivo a cada vez que sinto meu coração bater mais forte, me sinto mais vivo quando sei que tudo é recíproco e o que me resta é agradecer.

Grato por tudo, desde do início que você percebeu que eu não era apenas uma música de uma soundtrack de 4 temporadas, mas sim uma sinfonia para a vida inteira.

Já posso ir embora, doutora?

Douglas Barbosa
Enviado por Douglas Barbosa em 19/07/2019
Código do texto: T6699574
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