Yam
Eu vou assim explodindo enquanto você fala. Ou cala. Esses portais inescrutáveis disfarçados de mandalas castanho-escuro, inacessíveis, oscilando entre opacidade e miríades de brilhos, que parcamente identifico ternura e certezas mambembes; crescentes e arroubos e rompantes erigidos e desmoronados num movimento cíclico sem fim. Eu vou assim implodindo e proibindo a língua de bater no céu da boca e espalhar veneno. Damo-nos as mãos entrelaçando dedos e pernas, olhos aparafusados, uma infinita troca de afago e afeto que - penso, absorvendo com toda a força da memória o caleidoscópio de facetas que a luz da televisão lança sobre seu rosto - provavelmente desembocarão em nada. Eu vou assim sendo desmontado em cada passada de ponta de dedo na minha cabeça, em cada fricção de unha comprida escarlate enveredada na minha barba, em cada encontro de maçãs do rosto, em cada roçada de bochechas, em cada espasmo lascivo, em cada inalada da primal fragrância feminina, em cada manhã de ressaca, em cada beijo se cuida com capacete na mão em madrugas gélidas e úmidas. Eu vou assim me perdendo na sinuosidade do seu corpo, na protuberância dos seus lábios sorrindo e na retidão dos seus mistérios. Eu vou assim cultivando precipícios com uma corda enrolada no ombro.
Terno Rei - Yoko
08/07/2019