Pesadelo

Cortei-me as asas.

Num mergulho fulminante beijei o chão.

Meus olhos salpicados de areia lacrimejam e o gosto salgado em minha boca traduz a aflição de minha alma, deserta, que tem sede ainda.

Alimentava-se de lágrimas.

Por cordas me arrastavam e ainda que tentasse cantar minha súplica... Cordas cerradas aos tornozelos.

Um nó,

Um silêncio involuntário tomou-me a garganta.

Minhas unhas agarravam-se à copa das árvores num esforço reconhecido apenas pelo fracasso.

Ainda percebo as hienas, loucas em frenesi, tento ignorá-las mas é impossível, suas gargalhadas afiadas cortam meus tímpanos...

Praguejantes como corvos desalmados aguardando o "Ai de mim!".

A pupila já dilatada, reflexo de eclipse com pálpebras cerradas, já não sinto mais o peso do meu corpo.

A dor me faz atemporal, flutuante.

Sou átomo.

Soou...

Um som estarrecedor brutalmente abraça-me os nervos e de súbito, com o corpo já encharcado, ofegante... Desperto.

Foi só um pesadelo!

Day Elias
Enviado por Day Elias em 02/07/2019
Reeditado em 02/07/2019
Código do texto: T6686766
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