Pesadelo
Cortei-me as asas.
Num mergulho fulminante beijei o chão.
Meus olhos salpicados de areia lacrimejam e o gosto salgado em minha boca traduz a aflição de minha alma, deserta, que tem sede ainda.
Alimentava-se de lágrimas.
Por cordas me arrastavam e ainda que tentasse cantar minha súplica... Cordas cerradas aos tornozelos.
Um nó,
Um silêncio involuntário tomou-me a garganta.
Minhas unhas agarravam-se à copa das árvores num esforço reconhecido apenas pelo fracasso.
Ainda percebo as hienas, loucas em frenesi, tento ignorá-las mas é impossível, suas gargalhadas afiadas cortam meus tímpanos...
Praguejantes como corvos desalmados aguardando o "Ai de mim!".
A pupila já dilatada, reflexo de eclipse com pálpebras cerradas, já não sinto mais o peso do meu corpo.
A dor me faz atemporal, flutuante.
Sou átomo.
Soou...
Um som estarrecedor brutalmente abraça-me os nervos e de súbito, com o corpo já encharcado, ofegante... Desperto.
Foi só um pesadelo!