AQUELE FRIO NA BARRIGA, ERA APENAS FOME !!! (ALMIR PRADO)

Inverno, tempo de pessoas bem agasalhadas, chocolate quente e céu nublado. Eu caminhava sorrateiramente pelas ruas , casais felizes e acompanhados distribuíam sorrisos, carros caminhavam silenciosamente sobre o asfalto gelado. O céu cinzento dispersava minha solidão, musicas de amor plantavam lágrimas em meus olhos.

Eu estava vivendo uma simples rotina. Acordava, escovava os dentes, tomava um banho quente, vestia uma calça Jeans e uma camisa de Hard Rock, ia então para o trabalho. Ao fim do dia voltava para minha casa e assistia algum filme aleatório, tomava meu banho, jantava e ia dormir. No dia seguinte seguia o mesmo ritmo. Nada me alegrava, nem se quer lembrava como era dar um sorriso espontâneo e sincero.

Minhas tentativas fracassadas de amar alguém me perturbavam, mesmo sabendo que não tinha nada a perder eu não queria trocar semanas de felicidades por meses de tristeza. Mas entre as frestas das minhas entranhas, aquele friozinho na barriga não era de inverno, algo dizia que o acaso iria me apresentar a janela para um amor.

Enquanto eu caminhava cabisbaixo ouvindo The Smiths, tive a leve impressão de que alguém sorria admirando minha solidão. Espantado olhei para um lado e para o outro. Alguns metros a minha frente em um ponto de ônibus uma moça de cabelo curto e olhos castanhos me esperava. Seria ela o alguém que eu tanto procurei, aquele alguém que o frio na barriga estaria me avisando, o tal amor que iria me oferecer a felicidade por curto prazo e depois partir. Eu desconfiava, era segunda-feira, ninguém se apaixona em plena segunda-feira. Passei por ela, mas nada aconteceu, nenhum efeito, nenhuma palavra.

Realmente eu estava enganado, aquele frio na barriga era apenas fome.