Escrever salva
Já não sei mais sobre o que escrever e nem para quem escrever, acho que perdi aquela intimidade com as palavras ou talvez eu nunca tivesse isso, apenas achei que elas (as palavras) fossem minhas na mesma intensidade em que eu sempre fui delas.
Cada frase por mim não dita é uma flor morta no jardim de casa e cada texto não escrito é uma estrela que se apaga no céu da minha boca. Eu me esforço, juro que me esforço.
Escrevo meia dúzia de palavras aqui e algumas rimas ali, mas parece tudo tão patético e fútil, como se o silêncio desses últimos meses tivesse afastado de mim todo o encanto em escrever.
Me sinto sufocada, quero colocar meu dedo na garganta e expulsar de mim as mil frases clichês que guardo comigo, quero voltar a escrever sobre o céu durante a noite, quero falar do mar sem lembrar de como o fato das pessoas de hoje em dia serem rasas me assusta. Quero escrever de outras pessoas porque já estou cansada da mesmice que é falar sobre mim.
Por favor, sente-se aqui do meu lado e diga que me entende. Fala sobre o quão foi difícil para você também, de como as palavras brincam de esconde-esconde quando você pega uma caneta e um papel. Por favor, me diga que não estou sozinha nessa porque eu tenho pavor de estar sozinha em algo.
Vem aqui e me conte a história do sol que amava tanto a lua que se punha para deixá-la brilhar. Ando me sentindo tão sozinha nos últimos dias, como se nem todas as pessoas do mundo conseguissem me fazer menos, sei lá, rejeitada.
Quero escrever porque se me tirarem as palavras não me sobra nada, me torno um ser ambulante sem casa, sem cais. Apesar de nunca dizê-las em voz alta quando as escrevo me liberto, mas quando não as tenho me sinto como um pássaro preso na gaiola.