Sobre o autoengano
Coloco-me a falar sobre o fato de confundirmos a rejeição com o amor e, seguidamente, com a saudade. Temos dificuldade em entender o que é o apreço e um certo interesse que as pessoas possuem em alguns casos. Pois bem, descontando os vários fatores (sociais, familiares, culturais) que influenciam a nossa concepção acerca do significado de amar, busco discorrer a respeito do tênue limite entre o afeto e o autoengano.
Em inúmeras situações, acreditamos que não há nenhum problema na ausência de reciprocidade. Tal pensamento nos afasta, continuamente, de nós mesmos, gerando o nosso próprio abandono. Criamos a ideia de que se pode dar e nada receber, ou que exigir do outro é humilhação e algo penoso.
Antes de tudo, é necessária a compreensão de o relacionamento ser uma troca de experiências e, sobretudo, de responsabilidade afetiva. Ser responsável, sob esse aspecto, é entender a importância de doar e de receber na mesma proporção. A partir do instante no qual se desenvolve um carinho mútuo, essa espécie de comprometimento é traçada. Porém, quando resolvemos ignorar isso ou relativizar, saímos machucados.
Tudo bem ser rejeitado(a), não temos a obrigação de amar. Todavia, olhar para isso e se forçar a se contentar com o pouco, ou com a nulidade de sentimentos só causa sofrimento. A saudade é sentida quando algo bom foi deixado para trás ou, de certa forma, foi impedido de acontecer. Não existe saudade do que traz infelicidade, na verdade, não deveria existir.
Eu sei que o amor próprio é uma construção lenta e cotidiana, contudo devemos praticá-lo sempre. Nós só estamos preparados para amar outras pessoas quando entendemos que o autocuidado deve estar em primeiro lugar.