Encontrar-se
Sabe, às vezes, eu acho que a gente só quer encontrar o nosso lugar no mundo. Um espaço para chamar de meu. Tão meu que não preciso dar satisfação, nem para mim mesma. Acredito que essa espécie de lugar é uma forma de pertencimento, ou seja, da consciência de que, ali, percebo-me preenchida por algo muito maior. Possui grandeza o suficiente que, por si só, basta. Chorar, rir, calar, consentir, revoltar. Um espaço para tudo isso. Em algumas circunstâncias, a gente só quer se espelhar no anonimato, pois conseguimos refletir o que se passa verdadeiramente somente desse jeito.
O externo nos ofusca a todo momento. Ele nos impede da concretização de transferência, tendo em vista a sua mutabilidade infinita. Eu estou falando do próprio encontro. Algo difícil e, muitas vezes, impossível. Encontrar-se é uma dádiva, ao passo que somos múltiplos. Exercício diário sem prazo de validade. Por isso, complicado na prática. Quase que uma utopia.
O encontro é a face da felicidade e o corpo da auto-admiração. É uma auto-análise que não fere, apesar de trazer dores à tona, porque faz nascer o amor próprio de longa duração. Então, os machucados da vida, olhados sob a ótica do sofrimento, são ínfimos diante de tudo. Conseguir ir ao encontro do eu é profundo. Hei de chegar - ou passe perto de alcançar.