DA ALTURA DO CÉU SEM LIMITES
DA ALTURA DO CÉU SEM LIMITES...
Na passagem da minha infância para a pré - adolescência escrevia muito e detalhava com cuidado cada palavra escrita para marcar todos os meus sonhos . Não sonhava com riquezas, com castelos, com jóias, mas com os lugares que um dia iria conhecer. Assim meu pensamento sobrevoava por países que só conhecia pelos mapas, livros e figuras de revistas. Passava pelos Alpes suíços , ora escalava os picos nevados que davam para o lado francês , ora para os italianos e me deitava nos campos verdes da pradaria alemã. Era também assim que visitava a França e escutava minha mãe contando histórias sobre os romances de Alexandre Dumas Filho e as lutas de capa-espada nas caves de Paris. Ia até a Rússia onde Napoleão enxergou sua derrota maior. Meu pai por sua vez contribuía com as músicas clássicas tocadas em nosso piano. O teatro cantado nas óperas clássicas que meu pai conhecia tão bem. A Europa pelo o que meus pais alimentavam nos meus sonhos. A diversidade de culturas em países tão próximos. Assim fui realizando a minha trajetória. Morei quase 6 anos em Paris (acompanhada algum tempo por minha mãe que me narrava in loco o que havia lido nos livros). A marca indelével desse sonho realizado .
Continuando a minha viagem, eu chegava aos Estados Unidos quando admirava o “American Way of Life”. Ficava me imaginando naquelas casas com aparelhos automáticos, uma qualidade de vida que fazia brilhar os olhos de qualquer brasileiro naquela época. No Brasil, ia de Norte a Sul e tinha o privilégio de saber sobre cada região pelos livros didáticos que minha mãe escrevia. “Um país cheio de contrastes e variadas culturas”, como ela sempre falava. Meus devaneios eram muitos. Foram me acompanhando ao longo da vida e eu nunca parei de sonhar, mesmo já tendo realizado grande parte de meus sonhos. Fui eleita Miss Brasil em 1970 e eis que surge a oportunidade de viajar por cada Estado e receber de minha Mestra todos os conhecimentos que ela possuía, mais uma vez premiada!
Estou aqui nos Estados Unidos em 2019. Um país que me surpreende a cada dia que dirijo pelas estradas buscando mais aventuras. Converso com muitas pessoas das mais variadas nacionalidades e penso comigo mesma: o exemplo da verdadeira democracia está aqui onde não importa quem você seja. As oportunidades lhe serão oferecidas segundo o que merece ter. Tudo muito organizado e pega quem quer, larga quem quiser . O meu encanto por este lugar ainda me trás a sensação da “primeira vez” depois de ter ficado quase um ano em Houston em 1974 (cuidando de minha mãe com câncer, juntamente com meus dois irmãos que moravam aqui). Na década de 90 morei, com minha família já constituída, durante quatro anos em Miami. Retorno a Houston por várias vezes nesses anos após 2016. Sempre me encantam a civilidade, a educação e me transporto aos sonhos da juventude com os sucessos musicais da época. Mais sonhos concretizados.
Daqui a alguns dias completo 70 anos de idade. É muito comum dizerem : nossa ! Passa tão depressa ! Não penso assim devido ao acúmulo de coisas que já realizei. Quando me recordo de cada sonho que foi me preenchendo em pequenas gotas, a memória volta no tempo e esse tempo foi todo se completando. São como páginas escritas num grosso livro numerado cujas páginas se direcionam para o infinito. Nele reflito sobre as escolhas que foram me aparecendo. A única realidade que posso constatar é que escolher é difícil. Uma das façanhas mais árduas de nossa vida. Escolhas bem pensadas, escolhas por impulso, escolhas induzidas , escolhas movidas a sentimento, escolhas por poucas opções de escolha . Pouco importam pois de alguma forma foram muito bem aproveitadas. Para mim não existe o “se” de uma escolha não acertada. Não existem lamentos sobre o que “deveria ter sido feito” pois as minhas escolhas teriam sido as mesmas nas circunstâncias que me foram apresentadas. Pairavam dúvidas de que eu não pudesse realizar meus sonhos. Fui apostando no meu positivismo, na maneira de simplificar o complicado e dourando o meu caminho com a minha alegria de existir. Vivências com desconhecidos, com amigos , vivência a dois , com minha família , minhas filhas, minha neta e ainda a realizar com os netos que estão por vir. Tudo tão bem preenchido.
Afirmo com toda a certeza : os sonhos não acabarão jamais e sei que ainda tenho muito a realizar.
Uma nova década recomeça! Não sou ligada a simbolismos, mas a etapas que vão se cumprindo. Sinto-me cheia de vigor pela vida e meu corpo me acompanha nessa vitalidade que transborda sobre a minha vontade. Minha alma de criança permanece e assim eu digo até mais tarde VIDA! Até breves SONHOS que me rondam.
Nessa vontade voraz é que eles chegam e fazem morada para marcar as minhas histórias inesquecíveis!
Eliane Thompson