virtude do ser
Escorrem os segundos. Ergo os olhos para a sombra, a sombra minha a contornar o chão imundo. Lá fora, para além dessas paredes, há vozes, pessoas sedentas e apressadas sob o sol, a vida a passar indiferente como sempre foi. Como sempre foi. No auge do meu silêncio, penso como às vezes parece-me que esqueço como falar, como se a boca fosse manter-se definitivamente fechada por ausência de ânimo e meus dedos não mais tomassem iniciativa alguma de comunicação. Estar consigo mesmo, nada ser além de si, deparar-se com a própria nudez da humanidade...
Nada preciso ser e talvez nunca tivesse precisado. A ideia de precisar ser algo nunca partiu de mim, assim como provavelmente qualquer ideia, qualquer palavra, abstração. Na tentativa de encontrar o que é meu, conscientemente meu, nessa mente carregada por um corpo que não foi formado por mim, assombro-me com o vazio de qualquer conclusão.
Falei o que falaram, agi como agiram, pensei o que pensaram, fui aquilo que foram...