convergência de olhares
Aquilo me olhou profundamente, eu sabia apesar de, tomado pelo medo, olhá-lo sorrateiramente, pedindo ao meu observador, quase o suplicando, que não o fizesse! Por que, se também fui raptado por sua imagem?
Há em mim, acredito, uma confusão de desejo, pois notar e ser notado denuncia o jogo escópico : a convergência revela o observador e lhe surrupia sua posição contemplativa. Inicia-se então um diálogo, em nenhum momento reclamado: Os olhos se comunicam onde os sujeitos querem apenas decodificar sem interlocução. Contudo, havia também em meus pensamento um medo: o da dúvida , não a do outro, mas do que em mim despertou o olhar do outro, tendo em vista a multiplicidade de olhares: a que se deve o olhar do objeto que eu minimamente desejei? os pensamentos que ruminam são da ordem da fantasia? Se assim o for, o desvio da possibilidade de encontro já não revelaria a fraqueza vergonhosa de sujeição à sua imagem? Ora, os enamorados são os fracos, acham sua posição voluntariamente na dialética do senhor e do escravo entregando ao outro o poder, ou melhor, abdicando de seu exercício no jogo de forças: anula a força que tem ou a minimiza entregando a batalha. Sem querer, mas conduzido pela vontade, o arrebatado legitima o poder deste outro, e na tentativa falha de fazer com que os olhos desvie seu olhar, o minuto de encontro pode ter sido o momento da subjugação - antes não ter desviado o olhar e ter sustentado uma farsa. Mas creio que seria inútil, pois os olhos são meros canais: a visão encontra-se velada. Entretanto, pode ser captada pelo outro desde que o encontro seja da mesma natureza: daquilo que está velado pelo olho - do campo do desejo.