O medo da liberdade
Nós passamos a vida tentando entender o mundo e as outras pessoas, mas simplesmente esquecemos de tentar entender a nós mesmos e as nossas atitudes. Se o fizéssemos, talvez conseguíssemos evitar muitas coisas estúpidas que terminamos fazendo e das quais acabamos por nos arrepender. E muitos dos nossos atos são motivados por medos inconscientes que nos fazem agir de forma irracional, afastando-nos dos nossos objetivos e nos colocando numa situação que sentimos que não era para estarmos.
Entre os medos inconscientes que nos movem está o medo da liberdade. Parece estranho, pois, se alguém nos perguntar se queremos ser livres, todos nós diremos que sim. Porém, ao mesmo tempo em que queremos ser livres, pode acontecer de, inconscientemente, termos medo de ser livres e independentes. Caso observemos bem, podemos ver que muitas pessoas se queixam que são oprimidas por cônjuges, pais, pelos empregadores mas, quando alguém lhes fala sobre agir para mudar sua situação, essas pessoas logo darão um monte de desculpas para continuar do jeito que estão. Por que será? Haverá uma resposta satisfatória? Podemos ver bem que isso existe sim. Quantas mulheres, como observou a autora de Complexo de Cinderela, não preferem permanecer submissas aos maridos? E vários filhos continuam com os pais dos quais reclamam que tentam controlar suas vidas. Por que queremos a liberdade e temos medo dela? Bem, isso parece irracional, mas é real. Do mesmo jeito que há os que têm medo de ser livres, há os que vivem na mediocridade por medo do sucesso.
Embora digamos que ser livre é a aspiração máxima do ser humano, é difícil ser livre, porque a liberdade nos obriga a ser responsáveis por nós mesmos e pelas consequências das nossas escolhas. Quando você escolhe ser dependente de outra pessoa, é mais fácil jogar nas costas dela a responsabilidade por sua felicidade, seu bem-estar e culpa-la se as coisas não dão certo. E ser dependentes nos desobriga de tomar decisões, de ir à luta, enfrentar os desafios de ser os autores de nossa existência.
No geral, optamos pelo mais fácil e não pelo melhor. Escolhemos nos queixar da vida em vez de lutar para melhorar nossas condições, agarramo-nos a rotinas estafantes em lugar de procurar uma saída, algo novo e que nos realize mais. E por quê? Porque, embora essas situações sejam ruins, elas nos dão uma sensação de segurança, ainda que falsa. Recorrendo ao lugar comum, é a tal zona de conforto, na qual preferimos ficar para não enfrentar as surpresas, o inesperado. Embora isso limite nossas vidas, dá-nos uma sensação de segurança, ainda que nos custe levar uma vida pobre e vazia.
Preferimos não usar nossa liberdade, pois isso é arriscado e também porque somos ensinados a não confiar nos nossos instintos, na nossa intuição. Isso nos leva a nos deixar levar por conselhos de pessoas que, mesmo que tenham as melhores intenções, não vivem nossas vidas nem têm nossas aspirações e sentimentos. Muitas delas nos dão conselhos baseando-se em seus valores. Está certo que muitos valores não mudam, mas temos que levar em consideração que cada pessoa tem sua visão de mundo e todos nós temos que ter nossas experiências para saber o que é bom para nós.
É lamentável que tenhamos medo de ser livres ao mesmo tempo que ansiemos tanto pela liberdade. Porém, se quisermos ser seres completos, precisamos abraçar tanto o lado agradável quanto o lado tortuoso de ser livres.
Ser livre não é fácil, mas nunca teremos uma vida de verdade se passarmos a vida tentando evitar o difícil para viver numa eterna zona de conforto. E, como sabemos bem, o caminho fácil é enganoso. O que parecia fácil, com o tempo, irá nos trazer frustrações e pensamentos amargos sobre como nossa vida poderia ter sido se tivéssemos tido a coragem de assumir os riscos de ser livres.