EXCLUDENTE DA ILICITUDE

Imaginem vocês a cena dantesca a seguir: Justamente o cordão umbilical, esta ponte ininteligível, entre o visível e o invisível. Que é quem nos traz a vida sabe-se lá de qual lugar adormecidos. Dia desses, perto de minha casa que fica no segundo andar, estavam construindo uma lage para uma família. Que até então haviam se mudado para o andar térreo onde resido, por serem vizinhos da área que iria ser construída, portanto, se alocaram na parte debaixo onde resido temporariamente. Pois muito que bem.

Num destes dias que o sol vai cerzindo e estalando o meio dia, ouvi, de um dos encarregados da construção. Que me parece a priori o comandante da obra. Falar com um outro pedreiro seu subalterno. Dizendo que havia vindo, antes desta sua nova obra. De um prédio que estavam construindo de cinco andares. Dizia ele, num tom meio que nervoso. Que estava ele no dito cujo andaime do prédio, no segundo andar. E que lá no quinto andar ele observava que estava seu amigo de construção , e que o mesmo havia colocado numa das vigas o "cordão umbilical". Como é chamado o gancho acordoado, que eles usam para proteção para evitar um desastre iminente. E que seu amigo pedreiro do quinto andar, por segurança, colocou o cordão umbilical, atracado num andaime de uma viga um pouco inferior ao dele. (As vezes a lógica não é um privilégio apenas do pensamento). Mais algo aconteceu, e esta viga que ele havia colocado cuidadosamente o seu cordão umbilical, havia cedido, e o puxou sem direito algum a defesa. Para o andar da morte. O chão. Entre cimentos e sentimentos a concretude. Eis aí um excludente da ilicitude.

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 08/06/2019
Código do texto: T6668372
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.