CORAÇÃO BOM OU CORAÇÃO BOBO?
Durante algum tempo da minha vida fui refém de crenças limitantes. Acreditava que ter um bom coração era sinônimo de fazer os outros felizes. Mergulhava, sem pensar, na armadilha de tentar, a todo custo, agradar as pessoas ao meu redor e, para servir a esse "propósito", anulava, constantemente, partes importantes de mim mesma. Perdi a conta das vezes em que aviltei meus próprios sentimentos (minhas próprias vontades) em benefício do bem-estar de outras pessoas. Passei tanto tempo me diminuindo para fazer o outro feliz, que negligenciar meu próprio querer se tornou algo natural. Vivia em um círculo vicioso e algumas pessoas se aproveitavam da minha "bondade". Há quem seja assim. Algumas pessoas nunca estão satisfeitas com aquilo que você pode oferecer livremente. Querem sempre mais. Exigem mais. O problema se torna maior quando alguém domina a arte de fazer o seu coração "bondoso" se sentir culpado. Pronto! Mais uma vez você se coloca na posição de responsável pela felicidade alheia. Acontece que quando se vive dessa forma, para agradar, renunciando à sua própria verdade, você se torna seu próprio algoz, é sugado de si mesmo, murcha inteiro. Assim, invariavelmente, em algum momento, surge o sintoma da incompreensão. Você não se reconhece e não se valoriza, e isso desencadeia um processo extremamente confuso na sua vida. Fica muito fácil se perder. Você já abriu mão de tanta coisa, frequentemente, inclusive, de você mesmo. De onde poderia vir a força necessária para começar a te fazer enxergar o respeito que você merece? É difícil brotar algo na escuridão do fundo do poço, então você acaba batendo bastante a cabeça, se quebra inteiro. É um processo doloroso, mas quando você se dispõe a olhar pra dentro, acaba conseguindo encontrar, escondidinho, no meio dos cacos, um pedacinho de amor próprio. Basta se firmar nele para recomeçar. Antes destruído, você agora se desconstrói e assume o desejo incontrolável de aprender a se refazer, na sua melhor versão. Você percebe que é o número um da sua própria vida e que são egoístas todos aqueles que transferem ao outro a responsabilidade pela própria felicidade. Você entende que é maravilhoso ser o motivo do sorriso estampado no rosto de alguém, desde que o preço não seja suas próprias lágrimas. Você descobre que o amor não é escravidão. Você ouve sua mente gritar: Se liberte! Se respeite! Você se dá conta, enfim, de que deve sim ter um bom coração, mas nunca um coração bobo.