Quando um "até logo" vira um "adeus"...

A infância é, sem dúvida, uma das melhores etapas da vida de um ser um humano, etapa da qual resultam muitas das mais doces, alegres e inesquecíveis lembranças que guardamos até o nosso último suspiro. Quando somos criança, não temos noção do tempo e tampouco da gravidade das coisas. Tudo o que os nossos pais nos dizem parece um exagero, como se tudo pudesse nos ferir ou nos levar à morte (fala sério, é só uma perna ou um braço quebrado após uma queda de bicicleta ou da árvore, nada demais). De modo geral, as maiores preocupações de uma criança costumam envolver temas como "brinquedos", "tipos de brincadeiras" e "roupas/sapatos da moda". Muita coisa mudou nestas últimas décadas, antes nós precisávamos utilizar muito mais a nossa imaginação e criatividade, já que nossos pais não tinham condições financeiras de dar tudo o que queríamos. Hoje, por outro lado, as crianças estão cercadas de brinquedos e aparatos eletrônicos contendo as mais avançadas tecnologias, possuem um quarto só seu, ar-condicionado e todo o tipo de comodidade possível. E isso é ruim? Depende. É compreensível que os pais queiram dar aos seus filhos tudo aquilo que não puderam ter durante a sua infância. Também é igualmente compreensível que eles tentem poupar seus "bebês" de todos os problemas e sofrimentos pelos quais já passaram quando eram crianças. Contudo, sem querer e sem se dar conta, muitos pais estão sufocando seus filhos, o que acaba contribuindo para que esses se tornem adolescentes mimados, mal-educados, solitários e depressivos. Muitos jovens, adolescentes e, até mesmo alguns adultos, não sabem o que é receber um "não", o que são regras e muito menos lidar com frustrações, não sabem perder e ter de lidar com a derrota. Cair, esfolar o joelho, comer terra, brincar com o cachorro, tomar banho de chuva, pegar piolho, catapora e gripe são coisas que nos preparam para a vida, são coisas que, por mais louco que pareça, também contribuem para aumentar a nossa imunidade e, principalmente, nos proporcionam muitas das melhores histórias que teremos para contar ao longo de nossas vidas. As crianças e adolescentes de hoje, em sua grande maioria, não sabem o que é passar trabalho, o que é ter de criar o seu próprio brinquedo ou ter de usar a criatividade quando a energia elétrica é suspensa. Na verdade, a dependência eletrônica hoje é tão grande que muitos deles costumam passar mal quando ficam sem acesso à internet ou perdem o celular, começam a suar frio e os batimentos cardíacos aceleram e isso é muito grave. Nesse ritmo, as relações também são abaladas, as amizades e amores são facilmente desfeitos, refeitos e substituídos como se fossem um aparelho celular. Aos poucos os presentes perdem o valor, a vida perde o sentido e tudo acaba contribuindo para sufocar ainda mais esse público infanto-juvenil. Seus quartos estão cheios de bugiganga e, ao mesmo, vazios de afeto, de carinho e de atenção. Eles se perdem nesses espaços, já nós, nos perdíamos pelas ruas e casas dos nossos vizinhos. Hoje os pais tentam estimular seus filhos a sair um pouco de seus quartos, nós, por outro lado, não queríamos sair da rua. Era tão divertido jogar taco, bola de gude e futebol em algum terreno baldio próximo às nossas casas, pular corda ou amarelinha, brincar de esconde-esconde ou de pega-pega, nossos amigos eram realmente presentes, conheciam nossos pais e até posavam em nossas casas. Tudo era tão inocente, tão simples e inesquecível, porém, tudo acabou de um dia para outro. É tão triste pensar que num certo dia, sem fazer a mínima ideia, brincamos pela última vez, nos despedimos dos nossos amigos pela última vez. Quando que iríamos imaginar que isso aconteceria? Existe um prazo predeterminado ou é simplesmente coisa do destino? A resposta talvez não seja tão simples, mas nós podemos facilitar as coisas. Não podemos deixar essas boas lembranças desapareceram, precisamos renovar nossos laços enquanto ainda temos tempo e saúde, pois não temos todo o tempo do mundo que imaginávamos ter (essa é uma das maiores mentiras que já nos contaram).