Todos Devem Deixar Algo para Trás Quando Morrem
“Todos devem deixar algo para trás quando morrem, dizia meu avô. Um filho, um livro, um quadro, uma casa ou parede construída, um par de sapatos. Ou um jardim. Algo que sua mão tenha tocado de algum modo, para que sua alma tenha para onde ir quando você morrer. E, quando as pessoas olharem para aquela árvore ou aquela flor que você plantou, você estará ali. Não importa o que você faça, dizia ele, desde que você transforme alguma coisa, do jeito que era antes de você tocá-la, em algo que é como você depois que suas mãos passaram por ela (…)”
Trecho de Fahrenheit 451, Ray Bradbury.
Como no pequeno trecho da opus magnum de Ray Bradbury, eu estive pensando nesses últimos dias sobre o que eu vou deixar de herança para a humanidade. O sonho febril que todos um dia têm de mudar o mundo de alguma forma foi engolido pelo ceticismo há muito. Foi difícil de aceitar no começo, mas cá estou eu admitindo isso a você, que muito provavelmente terá o mesmo fim anônimo que eu.
Mas o que vou deixar de herança para a humanidade? O que eu tenho a oferecer para ela?
Muitos antes de mim tiveram esta mesma dúvida, e eu com certeza não serei o último a possuí-la. E o tempo é algo bizarro. Vivemos em prol da continuidade da espécie, tentando achar um significado mínimo para nossas vidas, mas todos nós enfrentaremos o mesmo fim – só que alguns de nós serão mais lembrados do que outros.
Respondendo a minha pergunta, para a humanidade eu deixarei este texto. Este questionamento. Na verdade, este e mais outros que estão por vir, que serão igualmente esquecidos em meio a bilhões de bits de informação no “microcosmo” virtual…
…mas isso já é o suficiente.