A VIDA__________________
A Vida - cansada à beira de parir mais uma criatura -, num engenho determinado por Deus - que não escapava de sua admiração tamanha a Sua criatividade - tecia numa serenidade tamanha que manteve os olhos na exatidão da linha. Incapaz de cometer um erro, imaginava o que lhe parecia uma tutela, quase desarrazoada. Mas feliz.
_ Ah! Então está pronta? - exclamava a pequena criatura.
_ Sim! Quase! - a Vida. - E você não há de se queixar das imperfeições. Não em minha agulha!
Forneceu, a Vida, o coração cheio de ternura. Em seguida, acelerou tomada pela fantasia, num movimento materno de anunciar a perda à extremidade do mundo.
_ Oh, sim! - E Deus, flutuando ao vento, apaixonado, porque sempre fica e - feita a criatura - mostrou para Lúcifer, que alguns instantes depois, já recomeçava a sua ladainha.
_ Não! - gritou Lúcifer, furioso. Não, não... Mais uma? A menos que seja para o meu divertimento!
_ Como pode, tão bela Criatura, ter tão minúsculo coração? - Deus para Lúcifer. Mas Deus não tinha tempo para avessa lógica. Deu liberdade e espírito para a criatura recém-formada e sem desviar os olhos, disse:
_ Tende piedade, Lúcifer! Não cessa de discutir. Olha! Olha, está feita! Minha alma se manifesta mais uma vez para ganho desse mundo!
Deus soprou a criatura com um prazer quase filosófico de comprovar a sua teoria à beira do mais presunçoso dos seus filhos: Lúcifer.
A Vida, a julgar pelo seu esforço, mas em breve pausa, olhava sem trégua à procura de outra linha. E em fios de ouro, o olho fixo no relógio, aconteceu à contração a pontos sublimes e cadenciados para novo júbilo de Deus...