CONTÁGIO

A facilidade com que o externo atinge nosso mundo particular, nosso eu, nossa vida intima e  particular é algo soberbo. Acordar pela manhã ouvindo o cantar dos pássaros anima e transmite uma vitalidade ao dia que se inicia, claro que tem exceções à regra, pois há os que tem este privilégio e, acordam, saem para sua luta diária, sisudos e mal-humorados, e neste caso, nem uma sinfonia de Vivaldi, com entusiasmo e alegria pode mudar o tom do ser, faz parte dele.

Eu tenho por hábito, acordar e depois de ir ao banheiro e lavar o rosto e escovar os dentes, ligar o rádio numa estação bem comum aqui na região sudeste do país, e a rede de noticias vai contagiando nos primeiros passos de manhã, então como vivemos um momento turbulento neste país varonil, as notas não muito alentadoras, no mais algumas visões meio enviesadas de uns tantos comentáristas, sobre  economia, política e toda esta força que recai sobre a nação, com projetos, medidas provisórias, votações ,cercada de opinões diversas. Com todos os vieses das relações políticas ficamos estarrecidos, abismados e inconformados, isto logo pela manhã, não é muito animador, bem sei, mas virou um vicio, e depois até altero o módulo para um segmento musical e vai depender do humor, pode ser mais Roberto Carlos, passando por Alceu Valença, até a Ennya,  ou ouvir uma entrevista engraçada para criar mais ânimo e despertar outras sugestões pessoais. 

Se o humor ficou contagiado pelas notas e fakes disparados logo pela manhã, nos escritos e comentários a tônica vai no embalo, saem textos  um tanto agressivos, comprometidos com a discordância do sistema, negando as variantes do cotidiano, criando linhas tensas em sistemática anuência com o absorvido, podem verificar, poucos conseguem a habilidade de transmigrar a sensação despertada com a crueza dos fatos para algo mais suave e acolhedor.

Eu, falo por mim, muitas vezes o sentimento de descrença, impotência e frustração me absorve que meus escritos vão lá, na mesma mão...e  nada de tentar mudar a palavra não, a sensação fica implicita de uma forma ou de outra, pois mesmo velada, é contagiada pelos externo que mesmo que você não ligue o rádio, está ali na esquina a te espreitar, com seu olhar furtivo, e uma hora ou outra ele vai te contagiar, seja com efeitos de exaltação, alegria, temor, ojeriza ou espanto. O externo contagia e gere o nosso humor no dia a dia. Para os mais disciplinados a meditação, amplamente divulgada faz toda diferença, eu não medito... para os religiosos a crença num dia celestial será a linha divisória, eu creio...para os céticos tudo vem como imperativo das atitudes humanas enfim, cada um em seu jeito e com sua visão devolve ao mundo as impressões absorvidas.
Lia Fátima
Enviado por Lia Fátima em 23/05/2019
Reeditado em 11/06/2019
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