Amortecido
Despertar.
Seguir sem saber nem como nem para onde nem porquê. A rotina de um autômato atravessada com um arpão. Deixar de ser robô e ser carne que se eriça, que sucumbe, que sente dor, que sofre. Que sente. Acordo na negação de abrir os olhos. Sob as pálpebras, filmes. Firmes, curtos. Curtas. Claquete. O modo como ela estirava o lábio inferior de maneira quase imperceptível quando se preparava inconscientemente para esboçar um sorriso acanhado (corta!), desses onde tentamos velar as maravilhas entreguistas nefelibatas que rondam nossa mente (corta!) num ambiente de suscetibilidade não permitida. A perda sem ganho vindoura. Rumino o amargor da língua pesada. Claquete. Rememoro os dentes que se mostravam e os olhos que cintilavam: todo esse conglomerado de sutilezas e trejeitos (corta!), apesar de beirarem algum tipo de confissão idealizada, não passavam de rápidos arremedos. O corpo quente esparramado sobre o meu que a madrugada levou era a única a verdade. Amanheço anoitecido para viver o dia sonhando acordado.
Small Black - Personal Best
Maio de 2019.