GAY COMPORTADO

Citando diretamente João Silvério Trevisan, ”o desejo homossexual partilha de uma extrema pluralidade libertária – mas também dos paradoxos da padronização cultural de cada período.” É notório que a maioria de nossas relações é de expectativas sobre o outro. Seja em relação a forma física, ao modo de falar ou ao comportamento em determinadas situações do dia a dia. Umas das maiores expectativas humanas, que para mim superam todas as outras, levando em consideração a nossa construção cultural, é a expectativa sobre o sexo. Culturalmente padronizamos os comportamentos femininos e masculinos em nossa sociedade, o que nos leva ao titulo desse texto, gay comportado.

Mas afinal, o que seria um gay comportado? Seria aquele que não possui trejeitos femininos? Aqueles que se “comportam padronizados” com comportamento dito masculino? Seriam esses os gays comportados? Mas o grande questionamento que me vem à cabeça é: Por que ser um gay comportado? Ou, Por que é cobrado ao gay um comportamento? É visível que esse tipo de classificação ou taxamento aos homossexuais, tem o simples objetivo de adequá-los a um padrão. Mas já se perguntaram se esses querem se adequar a este padrão? E qual seria o sentido do gay ser comportado para com o olhar julgador do outro?

A cultura de fato, cria artefatos sobre os corpos, sobre os comportamentos das pessoas, com o simples objetivo de fixar certa identidade ao outro. Todavia esses artefatos são falaciosos e também provisórios, pois esse ser não pode ser resumido em um simples substantivo ou adjetivo qualitativo. Determinar ou sugerir (o que para mim é horrendo) como um gay deve se comportar em relação ao seu modo de vestir, falar, andar ou se portar, é uma das restrições mais toscas para a volta do “amor que não ousa dizer seu nome”.

Os “machões” ou “bofes”, à custa das ditas “bichas”, conseguem mascarar muito bem suas vivências homossexuais, sejam elas regulares ou esporádicas, onde a “bicha pintosa” acaba recebendo toda a carga pejorativa e estigma de ser o que é por ser mais efeminada. Finalizo este texto com uma citação de Michel Foucault diante dessa reflexão, onde em contrario à identidade, disse:

“É preciso não ser homossexual, mas sim buscar encarniçadamente ser guei. Interrogar-se sobre nossa relação com a homossexualidade é antes de tudo desejar um mundo onde essas relações sejam possíveis, mais do que simplesmente ter o desejo de uma relação sexual com alguém do mesmo sexo.”

Lume Santos
Enviado por Lume Santos em 21/05/2019
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