Tudo bem, eu escolhi ser dona de mim. Embora alguns sentimentos não me pertençam. Dona de mim quando tento alçar voos mais altos e fico atemorizada com a perspectiva de uma queda; dona de mim quando digo basta! para minhas lamentações e lamúrias e aceno para Deus com humildade, como forma de clamor, quem sabe assim com um piscar de olhos, a Sua vontade coincida com a minha; dona de mim quando insisto no imprevisto e sigo catando os cacos de vidro, de porcelana, de dentro; dona de mim quando esbravejo, falo demais, quando solto percevejos e prendo minha língua num quadro de cortiça; dona de mim quando, por um lapso, olho pro espelho e me vejo ignorantemente, frágil, infeliz; dona de mim quando faço caras e bocas pra expressar minha impaciência e mostrar meu desafeto, sem critérios, desfazendo assim a Monalisa; dona de mim quando ouço a minha consciência dando lição de moral e a driblo, sem titubear; Dona, mandona; do nada! Nem tão dona assim: Não controlo nem o cabelo.