Três de mim
Bem sei que vivo três vidas, apesar de não compreender em quais e por quais circunstâncias isto se dá em minha existência. O que quero dizer é que, embora temporalmente me encontre no que diriam “a flor da idade”, parte de mim também vive entre a infância e a velhice, desde que me entendo por gente. Quando criança, filosofava sozinha, como pessoa experiente, e, mesmo que não expressasse minhas filosofias com ardor, as guardava em meu peito na forma de grandes diálogos, hora com dor e angústia, hora com plenitude e amor. Agora, enquanto jovem, ainda me sinto criança: me divirto com o que, ao meu redor, permanece da infância, e adentro nas brincadeiras e histórias e fantasias dando-me por inteira, nas quais me perco por igual. Assim, me vejo neste meio tempo, e meu espírito sempre ilumina uma ideia tal qual minha curiosidade infantil perante o mundo se adéqua perfeitamente ao meu sossego temporão e humilde, que se extravasa sem precedentes, e há muito me faz vislumbrar o que chamam, comumente, de sempre viver e aprender.