Eu, minha vida
Meus filhos têm tudo. Meus esforços são para que a minha família tenha conforto, segurança e alegria.
Trabalho bastante para que eles sintam a vida como uma dádiva, que tenham prazer de viver e assim possam gozar de sua liberdade, que sejam criativos, espontâneos e saudáveis física e mentalmente.
Tenho ciência disso, sei que é uma coisa maravilhosa e dou muito valor a isso! O que me incomoda é que me dizem: "Dê graças por isso! Por serem escolhidos do pai! Pela bênção da saúde, do alimento do trabalho e de ser projeto de deus, a família".
É que não consigo me sentir especial por isso, meu entendimento é que tudo isso é fruto do meu empenho, das minhas escolhas e de um padrão que exerço dia após dia em busca desse resultado e não de uma bengala metafisica invisível.
Não posso aceitar que sou escolhido de um ser divino e superior em tese para ter tudo isso, e ignorar que em outros lugares do mundo crianças, mulheres, jovens, velhos, homens e até animais sofrem a falta do mínimo para sobrevivência. A fome, a dor, a miséria e a omissão do governo, das pessoas (me incluo) e divina são reais e cotidianas.
Não quero ser escolhido ou especial dessa maneira, não quero ir para um lugar no pós morte e "viver" uma eternidade de paz e alegria quando muitos de minha raça estarão em eterno sofrimento, onde o fim não é uma opção e essa condenação infinita é definida pelas escolhas finitas nessa terra.
Não acho justo, e pouco me importa se isso é como me dizem um mistério divino! Não quero fazer parte disso, nunca... jamais.
Não posso deixar de considerar que o muçulmano pode estar tão certo quanto os cristãos acreditam que estão.
Não aceito a aposta de Pascal, pois me parece no mínimo infantil tendenciosa e falaciosa, e na melhor das hipóteses considera que deus é ingênuo.
Eu me evadi do ceio santo, dos objetos sagrados, ungidos ou tocados simbolicamente. Digo adeus aos dogmas, á acepção de pessoas, a escravidão, ao preconceito e a condenação. Minha tristeza é saber do tempo que perdi dessa vida... única, pequena e frágil... como poderia ter aproveitado mais tudo que está agora diante de mim... liberdade.
Não mais... nunca mais, estou imerso e balbucio o esplendor desse novo universo, lindo, único; Perverso sim..., mas sem culpas e culpados. Livre.