Sobre poemas
Sou amante de poemas sem rimas, sem métrica e sem preciosismos. Interesso-me bastante no poeta que brinca com as palavras sem se importar em encaixá-las em rimas e métricas. Gosto do poema que flui e que concede lugar para que haja polissemia. Talvez seja por isso que o poeta brasileiro, Manoel de Barros, seja um dos meus poetas preferidos. Nem todo poema dele eu compreendo subitamente, mas quando chego a uma compreensão da poesia contida naqueles versos, do olhar atento de seu poema, é como se abrisse uma janela para algo além de mim. Aprendi com um professor querido de Teoria da Literatura que precisamos passar tempo sobre o poema e descobrir o que está escondido. E, às vezes, aqueles poemas em que o superficial (rima, métrica, palavras rebuscadas) é valorizado demais, perde-se o essencial. Veja bem, gosto de poemas que também tem todas essas coisas, mas quando ele fica só nisso e diz pouco, já não tem o mesmo encantamento daquele poema em que você precisa gastar tempo para jogar com as palavras (o poeta sabe jogar com as palavras de uma forma que deixa qualquer linguista com inveja hahaha).
A arte (poesia) é transgressora! Logo, a métrica dá lugar aos versos livres (que libertam) e os versos brancos denunciam o que passa despercebido e contém a alma do poeta que diz o inaudito e o indizível.
(Leiam o poema "O fotógrafo" do Manoel de Barros e vocês entenderão o que estou querendo dizer. Acho que até hoje ainda não compreendi completamente esse poema, porém todas as vezes que o leio eu paro e penso "Uau!". Já li ele algumas vezes e sempre acho que tem algo novo ali, parece que estou cavando um pouco mais a cada vez e ao final é sempre o mesmo encantamento que me causa.)