Meu corpo dominado/libertado
Simbolicamente falando, os corpos sempre foram objetos de dominação. Seja do homem, do Estado etc., sempre foram espaços de interdição. Sejam eles de fatores verbais ou não. Nesse sentido, mulheres e homossexuais são alvos notórios dessa interdição/dominação sobre o corpo. “Isso é coisa de menina” ou “isso é coisa de menino” são exemplos aleatórios da arbitrariedade de dominação que até se tornou natural no dia a dia da sociedade. Nesse contexto, pode-se citar como exemplo, que tudo ao nosso redor tem um teor sexual. Sim, teor sexual, como salienta Pierre Bourdieu em sua obra A dominação Masculina.
Quando se pensa em uma casa, a sua divisão está cheia de aspectos de compartimentalização sexual. A sala, por exemplo, é lugar de HOMEM assistir futebol. A cozinha é o local onde a MULHER prepara a comida para a família. O quarto? Local onde o HOMEM faz sexo com a mulher. Assim, notoriamente, as divisões do que homens podem fazer ou deixar de fazer é condicionado a questões sexuais que foram construídas socialmente, sendo elas arbitrárias, pois são expostas e praticadas como naturais.
Quantos e quantos homens neste Brasil não lava uma louça em casa sob o pretexto que isso é coisa de mulher? Como se afazeres domésticos fossem algo predeterminada as mulheres e que isso fosse confirmado na genética feminina? Aqui não se pretende esquecer que a dominação sobre esses corpos também entram em aspectos de agressões físicas, que infelizmente são praticados em nossa sociedade de forma corriqueira, causado por um pensamento machista de que o corpo feminino pertence ao homem.
Percebe-se que o corpo, seja ele feminino ou homo, infelizmente se adequam sempre ao olhar dominador arbitrário masculino. Um olhar que diz o que é certo ou errado a se fazer, sendo que essas participantes da dominação como dominados, se veem presos e até mesmo buscam a legitimação para com o olhar masculino sobre o seu corpo. A dominação masculina encontra até hoje terreno fértil para a sua produção e reprodução, pois se espalha nas entranhas da nossa sociedade como algo natural, e sendo assim, impossível de se combater.
Um exemplo muito claro são os locais que esse tipo de dominação sobre os corpos são legitimados, como a Família, Igreja, Escola e Estado. Sendo assim, como lutar contra essa dominação? O próprio Bourdieu afirma que apenas ter consciência não basta, é preciso lutar diariamente, pois quando se consegue mudar algo na família, a luta continua na igreja, que continua na escola, e que continua no Estado, como um ciclo que quase não acaba, que pode assim acabar enfraquecendo as lutas pela perda desse olhar masculino de dominação sobre os corpos. Há discussões muito mais profundas, e nesse sentido, indico a leitura da obra A dominação Masculina, e que fiquem atentas as discussões atuais, para que o quadro social em que estamos vivendo, aos poucos, possa mudar.
Quem sabe um dia os noticiários possam não mais nos informar sobre mortes avassaladoras de corpos homos e de mulheres, que simplesmente não se adequaram ao olhar arbitrário do homem e que por ele, fora decretada sua morte. Liberdade aos corpos já!