Le Carcasse du Temps
Tento estabelecer um contato extra-visual com as crianças judias da foto. Elas não param de olhar para mim. Nesse diálogo mudo, a Eternidade parece fazer permanente o nosso diálogo mudo. Se essas crianças estivessem vivas hoje, por certo que teriam perto de seus 90, 100 anos de idade...
A Memória é o que sobrevive com os vivos. É o corpo espiritual dos finados a figurar entre nós, meros mortais.
A Memória permanece incólume. Sentada no ar. Inerte -- mas a provocar uma sensação enorme de que se mexe tão rápido que nós não podemos perceber isso.
A despedida de um ente querido é, sem dúvida, uma dor enorme. Que não cessa tão cedo. Ela se prende a nós. Semana passada passei por isso. Tive de me despedir de um animalzinho a quem eu e minha família tinhamos humanizado demais.
Não há palavras para descrever a sensação de impotência humana, em sua concretude, em sua solidez, como sombra negra que se alimenta de nossas forças para suportar o esvaziamento.
A fotografia é um testemunho -- de coração e próprio punho.
A fotografia é a memória dizendo olá. Comprovando aquela minha tese de que "eterno é tudo aquilo que sempre pode ser relembrado". Que dura enquanto é lembrado.
Este mundo está sendo deixado para trás. Espero que as gerações vindouras saibam lidar com ele. Saibam lidar com o que nos fizemos com o que elas farão dele.
Há momentos na vida em que testemunhamos travessias pelo Rubicão. Quem tiver voltado de lá só pode ser sob a égide da Memória.