Mais um dia
Sábado letivo. Sua única amiga não vai. "Ah, vai muita gente, eu me viro com eles". São patrimônios históricos que você queria ver, você gosta de viajar.
Dentro do ônibus, toda aquela animação de estudantes, pessoas que você conhece há 4 anos, não tem como não se adaptar, certo? ERRADO.
Você animou todo mundo, inventou brincadeiras, propôs músicas, dançou. Todos curtiram sim, brincaram, dançaram e cantaram. Entre si.
Nenhum deles te incluiu, citaram os nomes de todos, menos o seu. Você tenta não se abater, ainda acha que está se divertindo, certo? ERRADO.
Você tá mais solitária, se sentindo mais só. Seu ex único melhor amigo? Tá com a namorada, vocês não se falam, nem se olham, nem devem.
Você tá sorrindo, só esperando o momento certo para chorar. Não na frente deles, viu? Demonstração de fraqueza extrema.
Vocês já voltaram, se despede de todos. "Vamo repetir na próxima, né?". Você concorda, diz até que vai ser melhor do que essa.
Você vai a pé pra casa, um pouco distante de onde você estuda, mas já está acostumada, mesmo percurso todo dia. Hora de pensar. Não, não pode chorar ainda, local público.
Você chegou em casa, sua mãe pergunta como foi, você fala como foi incrível, mostra as fotos, ela demonstra interesse, mas vai se arrumar pra sair. Todos vão sair. Você vai? "Não, não me chamaram."
Continua a olhar as fotos. Olha a rede social, todos publicando as fotos do passeio, marcaram os amigos na foto. Você participou de várias delas. Não publicaram nenhuma com você. Não te marcaram em nenhuma.
Mas o dia foi bom, certo? ERRADO.
Só provou mais e mais como você é sozinha, ninguém te quer de verdade, eles já tem amigos demais, e você não é tão divertida. Não é o seu mundo. Se situa.
E aí volta o mesmo pensamento de dois anos atrás. Pega aquele remédio, não conseguiu terminar naquele dia, pode ser que você consiga agora. Tais só, né.
Ninguém vai te levar pro hospital novamente. Dessa vez vai dar certo. Vai lá, tenta. Nada vai te impedir. Algumas cartelas de tarja preta já são suficientes, você tem várias dela.
Na hora que se levanta e vai fazer o que tem vontade, alguém abre a porta. Chegaram.
E assim termina mais uma noite com o sorriso mais forçado. "Sim, mãe. O passeio foi ótimo. Boa noite..."