LIMPAR A CASA____________
Limpar a casa para mim é uma terapia. Reativa a minha energia, é como se eu estivesse cuidando de mim, saindo do meu estado de sonolência e planície. Não se trata de TOC, não! É feito um ritual de passagem. Quando limpo a casa eu converso com os meus lutos, com os meus tumultos e o meu estado turvo que, pouco a pouco, vai clareando.
Muitas de minhas amigas acham um absurdo, dizem que eu deveria ter faxineira. Mas eu faço porque eu gosto! E gosto muito! Gosto de encher a casa de flores, de limpar as janelas, acender velas, abrir as cortinas, de varrer o chão, cuidar dos meus jardins, de cantar enquanto faço isso, do café fresco depois de um dia de trabalho, de ajeitar os quadros e tirar o pó dos móveis... Me sinto alma vagando em diálogo com essa casa que é corpo. Cansa, tem dia que cansa, tem dia em que nos damos uma trégua e eu deixo para depois algumas arrumações. Mas ela não se importa e me sorri rangendo o assoalho _ ela também se espreguiça -. Ah, e ela dialoga comigo! Sei exatamente do que ela precisa sob os seus vencidos umbrais... E quando terminamos, nos amamos. Mas quando eu a negligencio, ah! O que outrora me deu a sombra de um lar, vira um abismo que me olha em queixumes batendo suas portas e a vergar o quadro, inquieta, indócil e sobre quem pesa essa ira? A casa inclina-se vagamente e me olha, janelas cerradas feito olhar severo. Me atravessa! Olhos que germinam furacão! Vê-se, em sua anatomia torta e ruídos incomuns, que está zangada! Mas é coisa breve, porque ela sabe que eu cuido e gosto. Se não cuido, ela sabe, ficamos as duas na poeira. Então logo ela muda a forma inquieta de quem não dorme e eu vou desdobrando-me sob o seu olhar claro e caloroso.
Ah, quando ela me estende as escadas e o seu dorso quente e nos entregamos a longas convivências! As minhas partículas se misturam com as dela nessa mudança que o tempo nos condena. E nos embalamos frente aos pulmões inflados do mundo, na rede que sempre acalma e contemplamos as estrelas.
Muitas de minhas amigas acham um absurdo, dizem que eu deveria ter faxineira. Mas eu faço porque eu gosto! E gosto muito! Gosto de encher a casa de flores, de limpar as janelas, acender velas, abrir as cortinas, de varrer o chão, cuidar dos meus jardins, de cantar enquanto faço isso, do café fresco depois de um dia de trabalho, de ajeitar os quadros e tirar o pó dos móveis... Me sinto alma vagando em diálogo com essa casa que é corpo. Cansa, tem dia que cansa, tem dia em que nos damos uma trégua e eu deixo para depois algumas arrumações. Mas ela não se importa e me sorri rangendo o assoalho _ ela também se espreguiça -. Ah, e ela dialoga comigo! Sei exatamente do que ela precisa sob os seus vencidos umbrais... E quando terminamos, nos amamos. Mas quando eu a negligencio, ah! O que outrora me deu a sombra de um lar, vira um abismo que me olha em queixumes batendo suas portas e a vergar o quadro, inquieta, indócil e sobre quem pesa essa ira? A casa inclina-se vagamente e me olha, janelas cerradas feito olhar severo. Me atravessa! Olhos que germinam furacão! Vê-se, em sua anatomia torta e ruídos incomuns, que está zangada! Mas é coisa breve, porque ela sabe que eu cuido e gosto. Se não cuido, ela sabe, ficamos as duas na poeira. Então logo ela muda a forma inquieta de quem não dorme e eu vou desdobrando-me sob o seu olhar claro e caloroso.
Ah, quando ela me estende as escadas e o seu dorso quente e nos entregamos a longas convivências! As minhas partículas se misturam com as dela nessa mudança que o tempo nos condena. E nos embalamos frente aos pulmões inflados do mundo, na rede que sempre acalma e contemplamos as estrelas.