VAI PASSAR (ALMIR PRADO)
Tão longe ficou o tempo pensarás. E sentirás uma vontade absurda de voltar, de encontrar, de ligar, entrar em contato, sei lá; falar da imensa falta que faz tudo o que não vivestes, contar das tantas inexplicáveis carências incuráveis, e sentirás atravessada na garganta ou no peito ou na mente, tudo aquilo que chamamos de ausência, e então fugirás, porque é isso que fazes, e encontrarás outros cheiros, outros gestos, outros sorrisos numa outra pessoa qualquer; mas no espelho cru, os teus olhos já não acham nem graça, nem brilho. E tu repetirás outras e muitas vezes; mastigando, engolindo, ruminando em uma frase escrita sobre algum tempo: “vai passar, eu sei que vai passar.” E lentamente silenciarás, e lentamente aceitarás. Que não passou porra nenhuma; (ALMIR PRADO)