CRENTES E DESCRENTES PERANTE DEUS
No rol dos crentes, entendemos a inserção dos escribas e dos fariseus, ou seja, os pregadores e os habituais frequentadores das denominações teológicas, que atualmente são chamados, indevidamente, de “pastores” e de “cristãos”. Como descrentes, os chamados agnósticos, são os descrentes mais moderados, que acreditam na possibilidade da existência de Deus, mas exigem provas da Sua existência, e os ateus ou racionalistas, são os descrentes mais radicais, que não admitem a existência de Deus, de forma alguma.
No ideário popular, incrementado por parte dos crentes, tanto os agnósticos como os ateus ou racionalistas convictos estão inexoravelmente condenados, se mantiverem as suas convicções. Antes de entrarmos no mérito destes contrapontos, convém esclarecer que a investidura na condição de Cristão não se concretiza pela vontade ou decisão do ser humano como pensam os escribas e fariseus, mas sim pela escolha por parte de Cristo, conforme (João 15;16). Portanto, tanto os escribas que não forem designados, nos termos de (Hebreus 5;4)), e os fariseus que não estiverem inclusos em (João 3;3,5) não estão investidos na condição de Cristãos, mas tão somente na condição de aspirantes a essa condição. Eles são apenas escribas e fariseus, os quais, aparentemente são crentes, mas na realidade, sabemos que nem todos o são, não é mesmo? Entre as “ovelhas” circulam também os “cabritos”, e também aí existirá uma separação: aquelas para a direita e estes para a esquerda e isso não foi copiado dos políticos, pois essa previsão é bem mais antiga, como se observa em (Mateus 25;33,34).
Mas, temos outros ângulos para examinar a questão. Entre os aspirantes a Cristão, ou seja, entre os escribas e os fariseus, existem os que apenas na aparência, demonstram estar realmente integrados ao rebanho, em busca da investidura cristã, mas na verdade estão de fato exercendo atividades relativas aos seus interesses pessoais em questões relativas ao mundo dos negócios ou na melhor das hipóteses, integrados apenas no congraçamento social puro e simples. Além disso, no cotidiano, fora do círculo “religioso”, cometem todos aqueles “pequenos” desvios, atribuídos somente aos descrentes. Por outro lado, podemos encontrar entre os descrentes, pessoas que observam com rigor os princípios éticos e morais, destoando daqueles que livres do temor de Deus pelas suas convicções ateístas, se entregam avidamente às atividades ilícitas.
Temos então, à nossa frente um quadro curioso, que nos leva a conjecturar sobre a postura de Cristo, no tocante às suas escolhas. De um lado, alguns pseudos aspirantes a cristãos envolvidos em todas as artimanhas comuns a todos, e de outro lado, alguns pseudos descrentes, comportando-se com decência e dignidade, observando com rigor os aspectos éticos e morais. Neste ponto, lembramo-nos dos dois personagens que faziam suas orações: o publicano, pecador sincero e humilde, e o fariseu obcecado e confiante em si mesmo (Lucas 18;9a14), e também da conversão do Apóstolo Paulo, um austero perseguidor de cristãos transformando-se no mais importante Apóstolo do Novo Testamento. No Brasil temos um extraordinário e notável fenômeno, ocorrido com o nosso grande Poeta Carlos Drummond de Andrade, que ele transformou no melhor de todos os seus poemas, a que deu o nome de “A Máquina do Mundo”. No episódio que deu origem ao poema, o Poeta foi contemplado com a Teofania, ou seja, com a visão da Glória do Senhor, assim como ocorreu por diversas vezes com o Profeta Ezequiel. Mas, como consta do maravilhoso poema, o Poeta, já mergulhado na dormência da sua crença, recusou a oferta que lhe foi feita, e seguiu adiante no seu caminho, com as mãos pensas... Mais um problema para Cristo resolver, talvez com base em (Romanos 11;29) por onde os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis. Da nossa parte, entendemos que o que mais interessa, aos olhos de Cristo, é a análise do efetivo comportamento de cada um no cotidiano de suas vidas, independente das suas crenças ou descrenças, e sobre esse comportamento, será alicerçada a decisão do Salvador quanto aos seus escolhidos. Nesse caso, as nossas pseudas crenças e pseudas descrenças, perdem para aquilo que realmente nós somos... Aí está a base para as escolhas; a realidade, e não a intenção instável e flutuante. Ademais, a realidade já se encontra a priori, devidamente registrada no determinismo e na predestinação, constantes da eternidade da onisciência. Conforme Eclesiastes, “o que é já foi, e o que há de ser, também já foi”. Além disso, a Esfera Divina é absolutamente o Tudo, onde nada se cria nada se perde, mas tudo se transforma infinitamente, onde nem uma vírgula é acrescentada ou retirada, e onde não há e nunca haverá uma só novidade. É absoluta e irreversivelmente imutável.