Muito distante

Minha imagem reflete na janela do ônibus

E ali naquela longa viagem

Tive que encarar em pé

Todos os meus pensamentos

Julgadores

Meus braços estavam envolvidos

E confiantes com o apoio

Que só a barra do ônibus

Seria capaz de fortalecer

Para que meu corpo suportasse

Todas aquelas curvas

Lombadas

Brecadas instantâneas

E o meu reflexo esfregava

Uma habitual rendição

As mazelas diárias

As perversidades intelectuais

Várias bolhas

Evitando umas as outras

Para não chocar-se

E caírem no abismo

Que só a igualdade

Deixa cair

E lá estava a minha imagem

Vencendo os julgamentos

Mostrando distância

Flutuando em direção

Ao buraco negro

E durante esta viagem

Fui desaparecendo

Entre as luzes dos postes

As luzes do ônibus

As luzes da ponte

Na água

Da terra

As pessoas se esbarravam em mim

Como se eu não sentisse nada

E realmente

Não sinto

Não sinto?

Adriane Neves
Enviado por Adriane Neves em 11/04/2019
Reeditado em 08/05/2019
Código do texto: T6620828
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