Muito distante
Minha imagem reflete na janela do ônibus
E ali naquela longa viagem
Tive que encarar em pé
Todos os meus pensamentos
Julgadores
Meus braços estavam envolvidos
E confiantes com o apoio
Que só a barra do ônibus
Seria capaz de fortalecer
Para que meu corpo suportasse
Todas aquelas curvas
Lombadas
Brecadas instantâneas
E o meu reflexo esfregava
Uma habitual rendição
As mazelas diárias
As perversidades intelectuais
Várias bolhas
Evitando umas as outras
Para não chocar-se
E caírem no abismo
Que só a igualdade
Deixa cair
E lá estava a minha imagem
Vencendo os julgamentos
Mostrando distância
Flutuando em direção
Ao buraco negro
E durante esta viagem
Fui desaparecendo
Entre as luzes dos postes
As luzes do ônibus
As luzes da ponte
Na água
Da terra
As pessoas se esbarravam em mim
Como se eu não sentisse nada
E realmente
Não sinto
Não sinto?