Reflexão de Domingo

Eu quis um domingo de sol, churrasco, futebol, cerveja com amigos e muita diversão. Quis almoço em família, matar a saudade, boas conversas e risos espontâneos. Mas temporais ou eventualidades, mesmo sem convite, vieram mostrar o quão descartáveis podem ser os planos aparentemente perfeitos. Então praguejei contra o universo, e gritei aos quatro tantos minha imensa insatisfação em perder momentos imperdíveis.

Eu quis um emprego que me possibilitasse uma vida com algum conforto, umas viagens de vez em quando e alguns bens. Quis ser o melhor naquilo que fazia, ser reconhecido e admirado pelos outros. Mas não ocorreu como imaginava e essas coisas geralmente não caem do céu, existia um alto preço para tê-las. E então, era difícil se concentrar no meio de tanta coisa: vários amigos online, vídeos e séries interessantes, jogos maneiros, um monte de lugares bacanas para curtir o happy hour de sexta ou qualquer dia, a queda na bolsa de valores, uma nova guerra entre dois países, uma nova doença ou vírus, um espirro alto de alguém que estava ao meu lado, a eterna crise do país, as injustiças e desigualdades da sociedade, o governo que sempre foi corrupto e por isso as condições de onde moro não eram favoráveis para me oferacer melhores oportunidades.

Eu quis uma vida equilibrada, segura e ao mesmo tempo aventureira, e sem tantas responsabilidades além do normal. Quis um amor tranquilo, sem desavenças, que não desse muito trabalho e que a felicidade fosse constante. Porém, a vida parecia seguir um curso próprio, onde as regras não são tão claras, podendo ficar cada vez mais confusa e árdua ou pior monótona. Quanto ao amor, bem, nenhum livro conta o que acontece depois do "felizes para sempre" e não há tutorial para descrever como às vezes pode ser complicado manter uma boa relação. Enfim reclamei da vida, pois bem que poderia ser mais simples e me facilitar um pouco. Já no amor, achar que o problema está na outra pessoa sempre parece ser a conclusão mais óbvia, então também reclamei.

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E houve o tempo em que eu nada quis.

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Hoje em dia, quero tudo o que queria antes, e desejo ainda mais. Mas muitas coisas haviam mudado, incluvise a própria forma de querer, pois não se trata do que quero, e sim de compreender o quanto quero alguma coisa, essa compreensão determinará tudo que se está disposto a fazer ou abrir mão para conquistar qualquer coisa. Percebi que só "querer" sem "merecer" de nada adianta para que algo aconteça, e que "merecer" é resultado de uma "ação", ou seja, do exercício contínuo dos músculos do foco, disciplina e resiliência. Pois um trabalho melhor merece aquele que se esforça e paga o preço necessário, fazendo com destreza o que realmente acredita. Então, merece um bom relacionamento aquele que primeiro procura ser um melhor relacionado. Também entendi que há dois tipos de coisas, as várias que eu não tenho controle, e as coisas que controlo ou que dependem de mim, devo dosar minha atenção e expectativa de acordo com cada uma delas. Por isso procuro fazer a minha parte da forma que acredito ser a mais correta e da melhor maneira que consigo. A vida para de correr sem rumo a partir do instante que se pega as rédeas, assumir a responsabilidade pode assustar, mas é libertador. Estas e outras percepções me permitem ressignificar vários aspectos, então posso escolher entre reclamar da falta do sol que estragou a ida à praia que já foi remarcada há semanas ou simplesmente contemplar a beleza singela e silênciosa desse domingo chuvoso, que além de místico, pode inspirar textos e momentos inesquecíveis....

Gil Raider
Enviado por Gil Raider em 10/04/2019
Reeditado em 13/04/2019
Código do texto: T6620115
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