Militares no poder.
Minhas ponderações ao artigo de um usuário do site.
Caro amigo, eu também convivi com a ditadura militar e concordo que naqueles 21 anos, de 64 até 1985, a vida era menos perigosa, as crianças eram completamente inocentes - não conheciam a violência -, a segurança pública era mais efetiva e tínhamos tranquilidade para chegarmos tarde ao nosso lar sem sobressalto ou assalto a mão armada, haja vista que a população na época era de número bem menor. Pouca gente naquele tempo tinha condição de ter um carro na garagem e muito menos de ter um telefone em casa - por isso quase não havia roubo de automóvel -; o salário mínimo pagava mal e parcamente as despesas do lar, do tipo: aluguel, mercado, luz, água, açougue, feira e algumas peças de roupa - não sobrava dinheiro pro remédio; dificilmente a gente ia ao cinema - muitos trocavam este lazer pelo jogo de futebol e a cerveja; o teatro e o restaurante nunca fizeram parte do nosso cardápio, sempre foi passatempo de gente com muito dinheiro, até hoje as casas de espetáculo estão concentradas nas áreas nobres da cidade, e não havia restaurante no subúrbio naquele período tosco. O povão tinha muito menos recursos do que tem hoje para viver, no entanto éramos mais felizes. Isso era fato.
Os militares realmente viabilizaram muitas grandes obras: Itaipu, Usinas Nucleares - até hoje ainda não foi concluída -, Ponte Rio Niterói, Transamazônica - até hoje não foi concluída -, Embraer, Embrapa, o BNH, o FGTS, o INSS... Mas endividaram o país e recrudesceram a inflação, e quem perdeu com isso? O povo.
O que houve de perverso nesse período foi a maneira de governar, o Poder Executivo era ditatorial e não aceitava dividir autoridade com o Legislativo, muito menos com o Judiciário. Os Governadores eram biônicos assim como os Prefeitos e até os Senadores. A imprensa não tinha voz para fiscalizar muito menos para denunciar, e todos que viviam das artes: cantores, escritores, dramaturgos, cineastas, teatrólogos, pintores, editores, inclusive professores... Tinham que submeter seus trabalhos a Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP). Com a imprensa amordaçada o povão não tinha conhecimento desses fatos, a denuncia não chegava até ele. Sem o conhecimento dos fatos, está tudo bem. O governo é ótimo!
Os militares não investiram em saneamento, 72% dos que morriam no país tinham menos de 50 anos e destes, 46,5% eram crianças menores de quatro anos; pouco fizeram pela educação, a desigualdade financeira era crescente e alarmante. Não fizeram reforma agrária nem tributária muito menos reforma urbana ou sanitária. Independentemente disso eles lutaram pelo milagre econômico a todo custo, e incentivaram o maior êxodo rural que o país protagonizou na sua história moderna. Consequência: as favelas tomaram conta do cenário urbano nas cidades do sudeste, principalmente São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
De 85 para cá o mundo mudou muito e independente de governo A, B ou C, a realidade hoje é outra. A classe média conheceu a droga, viciou-se e se tornou dependente. Taxadas de ilegais pelos governos elas são comercializadas à margem do sistema, sem nenhuma contribuição para os cofres públicos terem recursos para tratar seus dependentes. Por terem preço elevado, mesmo o pequeno traficante logo tem em mãos uma pequena fortuna, e não demora a aparecer com uma pistola, um fuzil, uma metralhadora.
Os computadores, os tablets, os celulares... revolucionaram os meios de comunicação e hoje, no século XXI, não é mais permitido ser ingênuo mesmo sendo criança.
O regime de governo democrático tem que ter um Legislativo forte para ajudar o Executivo a governar, um Judiciário idôneo para mandar prender todo e qualquer criminoso, e uma Imprensa livre e responsável para denunciar o mal feito de quem quer que seja.
Estas deveriam ser minhas ponderações em: "Os Militares no poder". Artigo postado pelo nobre Senhor Jhon Macker. Como extrapolaram os 2000 caracteres permitidos no espaço do comentário e ficou parecendo Jornal de Domingo, lhe fiz transmissão através de e-mail. Depois achei que meu texto merecia a postagem, também, e decidi publicar ele aqui, no Recanto, com o mesmo título e na mesma categoria.