Quando o meu amigo que é médico e também faz parte do grupo de literatura viu que um dos tópicos que eu gostaria de escrever é sobre o shell shock, ele me contou um pouco sobre os hospitais militares, os efeitos nos soldados, disse que isso surgiu do transbordamento de limites controláveis de horror, angústia, estresse, ansiedade e medo - e tudo isso após se verem em meio a um bombardeio etc... Já sabia um pouquinho sobre esse assunto, mas vou aprender mais com ele que, obviamente, sabe muito mais que eu...
Mas...
Quando pensei nesse tópico, shell shock e suas formas diversas de sintoma, pensei em dizer também sobre a nossa luta diária, nossa visão que vai ficando obscurecida após tantos bombardeios nessa lida que é existir, onde as sequelas emocionais podem também ter manifestações físicas, sobre as nossas neuroses traumáticas... Porque a vida tem seus momentos de colisão e viver é estar constantemente à mercê das suas variáveis, boas ou ruins. Nossas experiências vão nos construindo, nos desconstruindo, nos enfraquecendo ou fortalecendo. De algumas experiências conseguimos sair quase que inteiros, de outras contabilizamos o que sobrou de nós abaixo dos escombros.
Algumas experiências nos paralisam... a vida e suas pluralidades! Quantas cicatrizes carregamos, quantas cegueiras sustentamos, mecanismos de defesa desenvolvemos, memórias que são como farpas e outras como asas da libertação... A vida é um combate diário, por melhor que esteja o nosso humor. É uma enorme trincheira... a vida, às vezes, apavora mesmo! Estamos sempre nesse embate com a morte em contínuos ataques e contra-ataques, embora saibamos que, no final de tudo, será ela a vencedora. Ah, quantas hecatombes em nossos sonhos! Mas começamos emergir e a avançar das trincheiras quando conscientes de que a nossa maior infantaria está dentro de nós mesmos (em nossa cabeça), nosso maior inimigo ou amigo. Ainda que em passos mutilados e a alma massacrada pelas balas, viver é um exercício diário que envolve - luta, resiliência, esforço, um pouco de sorte e muita dedicação. Viver torna-se mais importante quando no momento presente e, apesar de todos os nossos planos, os passos serão sempre improvisados.
(primeira postagem já foi rs... mais perto de começar a ler o material!)