Na contra-mão do mundo e de tudo o que é sagrado
[texto crítico demais para ser lido rapidamente, e prepotente demais por causa desta pequena introdução, nem eu gostei, mas tinha que alertar de alguma forma]
Me sinto na contra-mão do mundo, já começando o texto sem a devida ênclise, porque não gosto de ênclises... fazem o texto parecer artificial.
Eu caminho, descubro algo, (gosto de vírgula antes da última ideia) e volto ao nada.
Hoje há tantas modas de tantas coisas que fico enjoada.
Não sou obrigada a ver, mas vivo no mundo, não é?
Há uns seis anos queria investir no tesouro direto, mas minha família me proibiu, pois achava arriscado. Inclusive, os investimentos tinham outro nome. Hoje, está todo mundo falando disso, por causa do "Me Poupe!", que acompanhava antes de virar moda investir. Agora, depois de seis anos, e depois de tanta repercussão, já não me dá segurança investir nisso.
Há alguns anos conheci o Ho'oponopono. Agora que está na moda, todo mundo usa isso de legenda para fotos nas redes sociais. Que saco.
A palavra "gratidão" foi bastante banalizada. Já não tem o mesmo peso que deveria ter. Quando se usa muito uma palavra para coisas sem a devida ponderação da importância, sem o sentimento, ela já não tem o mesmo impacto. Para hoje, diz-se "gratidão" para qualquer coisa, mas será que vivemos com esse sentimento?
Outra coisa que não aguento mais ouvir, é a expressão "de tempos em tempos". A repetição de palavras muitas vezes enfraquece o seu sentido.
Não esqueçamos que estamos na "era" dos empreendedores digitais. Viver de forma saudável, indo na academia de manhã ou quando dá, viajando e expondo tudo no instagram, acordando às 5 horas da manhã, fazendo resumos bonitinhos (excessivamente enfeitados), "lettering" e mapas mentais (esses, sim, são eficientes se você não tem muito tempo).
Engraçado que quando não era moda eu gostava de tudo isso, mas agora está tão tedioso, e não faz sentido mais.
É engraçado que certas coisas, quando passam a ser feitas por todos, já não são tão atraentes.
Há dez anos, no ensino fundamental, eu fazia o tal de "lettering". Mas, agora que virou moda, não tem mais graça. No começo até tinha, mas não sei porque, perdi o gosto.
Agora, enquanto trinta por cento da população vive sua vida no modo automático, alienado por política, fofocas, pela mídia, pelas notícias ruins que não podemos mudar ou prevenir, por levantar alguma bandeira de alguma causa o tempo todo, sem conseguir acolher os que não entendem, trinta por cento busca investir no tesouro direto, usar o "poder da atração" para atingir seus objetivos na vida, usa o ho'oponopono como legenda nas fotos das redes sociais, passa horas fazendo resumos das matérias das formas mais ineficientes possíveis, lê livros de empreendedorismo e investimento, o resto está tentando fugir de tudo isso, de formas variadas.
Eu me sinto na contra-mão do mundo, porque, provavelmente, deixo de fazer o que deveria para ter uma vida "em alta performance".
Eu não quero uma vida em alta performance, não quero ter a letra mais linda que já consegui fazer (mas não deixo de treinar a escrever com a mão esquerda, por exemplo), não uso legendas espiritualistas e nem motivacionais nas fotos (mas gosto de ler quando não parecem artificiais), não acredito na previdência e nem mais no tesouro direto, e quero gerar valor sobre trabalho concreto, e não sobre especulação financeira e outros, sustentados por empreendimentos em pirâmide.
Quando encontramos algo que para nós é novo, queremos divulgar para o mundo inteiro. Esses dias estava acompanhando pessoas que têm alimentação à base de carne dizendo que vegetais possuem antinutrientes, usando vários estudos explicando porquê comer vegetais faz mal. Pena que não 'pesquisaram' que antinutrientes necessariamente não fazem mal, que sua ação depende das condições, e que a maioria é destruída no cozimento.
Não é exagero dizer que todos os dias eu fico de saco cheio do mundo, e das pessoas, pela falta de compreensão e falta de vontade de pensar e entender questões importantes.
E entender que certas questões, por mais importantes que sejam, não precisam ser sofridas a cada segundo.
Dá para dar um tempo do sofrimento. A gente não diminui o sofrimento dos outros espalhando ele, mas dando nossa paz.
Às vezes sou repreendida por coisas que não fiz, e silencio. As pessoas julgam, principalmente as que se acham espiritualizadas. Mas eu não falo quando não tenho a posse da palavra. Geralmente, elas só olham a superfície, não as causas, o que há por trás. Mas eu não as corrijo, apenas observo. Não corro atrás, mas sinto. Já experimentei e vi que não era aquilo o melhor, enquanto vejo outras pessoas, loucamente, indo atrás.
Não digo isso porque "não deu certo para mim e não vai dar para mais ninguém".
Deu certo, por isso mesmo vi que não era o que eu buscava.
É que certas drogas não são tão perceptíveis. A gente nem sente que está viciado, e acha que é saudável, que é a resposta para nossas necessidades, o que faltava na vida. E não é.
Mas eu também não conheço outra saída a não ser experimentar e me decepcionar. É muita expectativa em cima de artifícios que usamos para preencher alguma suposta falta.
Esse texto não foi pra dizer pra você não fazer nada.
Acho que só serviu pra mostrar como sou chata, talvez.
Mas não sou obrigada a dizer o que você quer ouvir. Não sou obrigada a ficar em silêncio. Se leu tudo isso, sorte a sua em saber dessas coisas.
Mas se um dia você ficar de saco cheio de tudo isso, saiba que faz parte. Você entendeu o que é alienação. Se você aguentar, pode continuar dentro dela, porque de certa forma faz bem.
Viver em um mundo baseado em repetições e imitações do que influenciadores digitais fazem, seguir doutrinas (e cada doutrina acredita que ela mesma é a melhor, a absoluta, a mais adequada, a que explica até as outras), é extremamente limitante.
Achar que sabe, sem conhecer, sem experimentar. Afirmar pelo que os "sábios" diziam que sabiam. Para eles poderia até ser verdade, mas sinto dizer que se você não conheceu sua própria verdade, o seu próprio mundo, e o que tem à sua volta, então o que você acredita é estupidez.
"Eta vida besta".