Quero Morrer

É necessário que ele cresça e que eu diminua. João 3:30

Se o desejo ardente do meu coração é continuar vivendo no egoísmo – escalando ao trono de glória que não pertence-me -, meu espírito ruge à direção contrária, à estreita estrada que mata-me sem zelo e refaz-me envolto de justiça.

Quando me ausento de escrever termino sempre distraído, ando nos limites do caminho certo e reclino-me para fora em expectativa; perco o foco contínuo e o que planejo em seguida se resume em passatempos insignificantes. A escama que caíra dos olhos renasce sobre as pupilas e a escuridão retoma o caminho claro adiante de mim. Ao desviar minha visão do alvo sinto estar pisoteando a própria bíblia, cada passo incerto recaí num capítulo diferente, cada milha percorrida me faz sentir o peso de sujar com as plantas dos pés os dizeres que deveriam estampar o coração.

O que mais desejo atualmente é morrer de vez, subitamente. Morrer sem deixar vestígios palpáveis nem lembrança capaz de ressuscitar o que jamais trouxe-me vida; porque o que tenho agora para oferecer são sementes impuras, sementes impuras que germinam e frutificam o pecado. Se no fim das contas o pecado leva à morte e eu morrerei de qualquer forma, prefiro então morrer agora, sob o jugo leve do amor de Cristo.

Quem dera eu fosse servo e filho fiel; quem dera eu fizesse da minha morte um ato concreto, definitivo, e não permitisse o cansaço de morrer e renascer me consumir inteiro. Diariamente o mal retorna à porta e eu abro-a com lábios em riso; não oro nem vigio porque durmo, e, lendo a bíblia, leio-a ansioso por terminar o capítulo e ir-me embora.

Foi-se o tempo que achei-me grande e suficiente, hoje me enxergo em Deus e necessito do Pai em tudo o que faço. Porém o tempo de morrer definitivamente não passou. Prostrado em espírito eu o adoro em verdade; ao louvá-lo, louvo-o de coração – mas não o honro verdadeiramente, pois permaneço vivo enquanto, na verdade, deveria estar morto desde o princípio.

Sempre que retorno à escrita retomo o sentido do que foi-me proposto pelo Pai. A escrita me obrigada a orar, a louvar e ler a Palavra. Porque escrever, para mim, é estar conectado com o Pai num lugar inteiramente exclusivo, no qual sou desfeito.

Não fui achado em Cristo para viver numa gangorra espiritual. Deus não derramou seu sangue para que eu lhe dedicasse o culto de domingo. Quero ser esmagado e morto. Quero morrer para que através da minha insignificância a glória dEle se revele.

Quero morrer e sumir. Morrendo e sumindo Ele se revelará em mim, aí sentirei a completude do Pai aqui, eu me alegrarei nele e Ele encontrará fidelidade e alegria em mim.

Pois, se vocês viverem de acordo com a carne, morrerão; mas, se pelo Espírito fizerem morrer os atos do corpo, viverão, porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.

Romanos 8:13-14

Filipe de Campos
Enviado por Filipe de Campos em 25/03/2019
Código do texto: T6606942
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