Das facetas do amor
Eu não sei explicar o que é o amor. Sei, contudo, o que significa para mim. Ninguém ama do mesmo jeito (ou será que ama?).
Talvez as pessoas confundam amar com necessidade ou estado de graça perpétuo. O amor tem sua face apática e de desgaste. O amor é confuso em si mesmo. Ora ama, ora desama. Amor não é arrebatamento contínuo - talvez seja, suponho e creio, doação de uma parte do nosso egoísmo humano. Talvez ou sobretudo, do ego que pede orgulho e graça para sempre sem resistir às agruras que o tempo vai impondo. Porque embora visto como algo grandioso, como entidade superior, o amor não está pronto. Está em constante construção. O amor é um processo contínuo, que ascende e declina e reascende. As pessoas de meu tempo tem medo de amar. Tem medo do tempo. Não estão dispostas a enfrentar os obstáculos do amor ao correr dos dias. Não estão dispostas a ter ante aos olhos a revelação de que o ser amado é imperfeito, de que elas próprias também são, de que conviver é conflituoso e nessa trama está o amor, não chama que arde e apaga, não estátua sólida - o amor humano de renúncia. Entrega de si; coragem suprema.
Segurei suas mãos confiante. Relutei, confesso. Tive medo. Não infundado, claro. É perigoso. Lancei-me ao perigo. Com mais e mais e mais força. E o amor, estranho, enganou-me. Já estava entregue. Estava pronta. Estava certa. Compreendera o amor e suas armadilhas, compreendera o amor e seus desníveis. Enfrentaria os instantes. Num ritmo tão veloz que era irredutível, esfacelei-me no baque contra a parede de pedra.