Catarse da escrita

Até um gato de estimação sabe o valor de um carinho. Quanto mais as pessoas que nos cercam diariamente. Todos sedentos de atenção, de auto-afirmação. As pessoas querem que confirmemos as suas opiniões. Não podemos negar algo básico, que é escutar. Às vezes a verdade é que nós estamos sentindo o mesmo. A falta de amizades sinceras, de amores verdadeiros, que nos compreendam.

Há exato um ano, eu estava vivendo os últimos dias do meu “casamento”. Na verdade nessa data, já tinha acabado, pelo menos para minha mulher, para mim tinha acabado meses antes quando faltou tudo isso, atenção, desejo, amizade, compreensão. Com a “barriga” fui empurrado para ver se dava como reverter o amor que foi acabando lentamente na convivência de um pouco mais de um ano e meio. Juntando o namoro, quase cinco anos.

Escrever é como dizia Osho, num livro que estou lendo, sobre meditação. Ele fala que antes de sentar na posição de meditar como todos conhecem, com postura ereta, olhos fechados, pernas cruzadas, mão com as palmas viradas para cima deveria colocar para fora tudo que nos aflige que dói que está preso nas camadas da vida, por sempre reprimirmos os nossos sentimentos.

Por isso, estou aqui novamente colocando para fora, aquilo que eu imaginei que tinha superado de verdade. Vivi um ano de cura, meditação, exercícios, algumas trocas de afetos, poucos momentos íntimos. Não namorei ninguém depois da separação, fiquei apenas com três mulheres. Algo que nunca aconteceu comigo, de passar um tempo tão só na minha vida.

Bem que tentei ficar com alguém, mas estava preso a esse sentimento do passado. Rolou duas ou três jovens dispostas a namorar serio. Eu que não estava preparado para algo profundo. E no tinder ou happn, só fiz mesmo colecionar milhares de matchs e crushs, mas nada de efetivo. Ou faltava dinheiro, ou faltava tempo.

Eu achava que podia seguir em frente, viver os meus sonhos, de trabalhar com rádio, futebol, jornalismo. Até estou em uma web rádio e fazendo podcasts, mas sinto que falta algo. Eu me sinto completo é bem verdade, sigo a vida realizando atividades, buscando atingir metas. Mas a vida não é só isso. Queria viajar, namorar novamente alguém bacana, ter vivências e uma vida social mais intensa.

Sou grato pelas coisas que tenho. Onde dormir, o que comer, fruto do meu trabalho e da graça de Deus, mas não quero apenas vegetar, quero viver. Sei que tem milhares de seres humanos nas calçadas, humilhados, sofrendo frio, fome, sede, abandono e solidão. Sei que a sociedade jogou eles nessa condição.

Mas não posso me juntar a eles e ser mais um gritando contra a opressão, tenho que levantar e seguir em de buscar mudar o que me resta de vida e esperança. Capacidade eu tenho, mas muitas vezes cansa lutar e lutar e não ver mudança e os sabores da vida escapar pelas minhas mãos.

Sei que Deus não criaria seres humanos para sofrerem e outros para serem alegres. Que temos um karma a cumpir, mas o fardo sempre parece pesado. Antes eu ainda tinha a bebida, o cigarro, e a música para aliviar um pouco da dor.

Fazer como as milhares de pessoas fazem no fim de semana. Postam as suas vidas intensas pelo Instagram, cercadas de amigos, sorrisos, sofrências. Todos bem felizes e na semana tudo se completa com as postagens de gente malhando e ficando em forma.

Chega a ser entediante acompanhar essas pessoas fazendo isso. Eu bebia ria, chorava, era meio feliz, mas no fim vinha um vazio e muita ressaca, e que querendo fugir desse estilo de vida, de farra.

Talvez a minha angústia seja, está sóbrio e vendo o mundo passar na minha frente de forma lúcida. Agora entendo porque milhares se embriagam, porque a vida não se coloca fácil para todos, devemos ficar resilientes e bastante pacientes a espera de um dia melhor.

Carlos Emanuel
Enviado por Carlos Emanuel em 23/03/2019
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