A REFORMA APÓS 500 ANOS
A grande cisão na unidade do cristianismo teve início nos problemas internos da igreja católica romana, onde se propagavam discussões teológicas sobre a própria doutrina, sobre as complexas cerimônias de ostentação, e em exemplos de comportamentos vergonhosos dos seus próprios integrantes. Isso tudo foi aumentando os movimentos dissidentes internos, que deram origem ao Cisma do Ocidente nos séculos XIV e XV, quando a autoridade do papa passou a ser questionada internamente, acentuando a desagregação da poderosa instituição. Uma das primeiras vítimas das dissensões internas da “santa igreja” foi o padre João Huss, que foi queimado vivo pela “santíssima instituição”. Mas, a cisão estava lançada, e a partir de 1517 as 95 teses do padre Martinho Lutero, afixadas na porta da igreja da cidade alemã de Wittenberg, acabaram deflagrando a Reforma, surgindo a partir daí as denominações teológicas dos chamados protestantes.
A Reforma teve a sua origem na denúncia de abusos da igreja, mas as divergências eram mais graves e profundas, como se observa nas palavras de Lutero: “Que crimes, que escândalos, que fornicações, estas bebedeiras, esta paixão pelo jogo, todos estes vícios do clero! São escândalos muito graves. Mas ai há outro mal e outra peste, incomparavelmente mais malfazeja e mais cruel: o silêncio organizado quanto à Palavra da Verdade, ou à sua adulteração”.
A doutrina luterana se expandiu e ganhou novos adeptos, como o francês João Calvino, que a tornou mais radical, adotando a teoria da predestinação, por onde o homem está predestinado antes mesmo da fundação do mundo, e ninguém, nenhuma instituição, sacerdotes ou teólogos poderão ajudá-lo a alterar a sua predestinação, nem a Palavra, pois somente aos eleitos é permitido compreendê-la, como concessão da Graça Divina.
Nesse contexto, onde se inclui a Graça Divina concedida apenas aos eleitos, torna-se óbvia a conclusão de que são inúteis as instituições religiosas, com toda a sua ostentação, e todo o seu também inútil arsenal de instrumentos operacionais. É claro que os teólogos sabem disso tudo, e por isso as denominações teológicas em geral, procuram tornar menos evidentes o determinismo, a predestinação e a Graça, apesar desses atributos se encontrarem bem explícitos na Bíblia: (Salmos 139;16 / Jeremias 1;5 / Mateus 11;27 / Marcos 13;20 / João 15;16 / Atos 13;48 / Romanos 8;29,30 e 9;11,15,16 / Gálatas 1;15,16 / Efésios 1;4,5,11 e 2;8), que simplesmente dispensam quaisquer tipos de intermediários entre Deus e os seres humanos. Mas, os astutos mercadores da fé sabem que as dóceis “ovelhas” são preguiçosas para estudar as Escrituras, e lhes vendem ilusões.
Afinal, torna-se bem notável, de forma inequívoca, insofismável, inexorável, irreversível, irretorquível e definitiva, que o livre-arbítrio é uma ilusão, e uma autoatribuição dos seres humanos, que insistem em exacerbar a sua própria importância. Além disso, o passado, o presente e o futuro, são apenas partes de uma história pronta, acabada e imutável, chamada Geração Cósmica, cujo filme, nesta edição, está sendo exibido, e será repetido, em sucessivas reprises, infinita e eternamente: Eclesiastes 1;9 a 11 e 3;15 – O que foi, isso é o que há de ser, e o que se fez, isso se tornará a fazer; de modo que nada há de novo debaixo do sol. O que é já foi; e o que há de ser, também já foi. Na Geração Cósmica, somos protagonistas, mas como modestos atores e atrizes coadjuvantes, e não sabemos se a cada edição dessa Geração, o elenco é ou não substituído por réplicas ou avatares.
A Reforma trouxe alguns benefícios, como o acesso geral à Bíblia, antes reservado com exclusividade e malícia somente aos sofistas “escribas” da religião pioneira. Ela também acelerou a separação do estado e da igreja, reduzindo o poder até então absoluto dos mercenários da fé. Mas a Reforma não conseguiu erradicar a própria igreja católica e, ao contrário, ela acabou criando muitas outras instituições do mesmo gênero, com as mesmas características da igreja pioneira, todas organizando as suas redes de supermercados da fé, cobrando pedágio das ovelhas subnutridas, no suposto caminho para o céu, vendendo-lhes sofismas e sutilezas vazias (Colossenses 2;8).
Assim, 500 anos se passaram, e os “escribas” estão “encalhados” no mesmo lugar, agora com uma infinidade de denominações teológicas, disputando acirradamente o mercado de “dóceis ovelhas” e de “rebeldes cabritos” (Mateus 25;33,34,41). Enquanto isso, o Bergóglio, encurralado pela justiça dos países desenvolvidos, empunhando o extintor, procura apagar os incêndios da pedofilia, certamente um pouco preocupado com esse problema que ocorre no mundo todo, mas não repercutindo nos países subdesenvolvidos, onde a justiça não funciona, até diante dos seus problemas domésticos e cotidianos.
Como uma constante, Jesus Cristo, os Profetas primitivos e os promotores da Reforma, fazem parte de um passado distante, e os efeitos dos seus sacrifícios se desvaneceram na neblina do tempo... O motor racional, movido pela associação dos seguintes combustíveis: a cobiça, a inveja, o orgulho e o ódio, aciona o monobloco da Humanidade com a mais absoluta precisão, em direção ao caos... As novas versões dos escribas e fariseus, representados pelos teólogos e seus seguidores, forjaram uma “igreja” de congraçamento social, como balcão de negócios, e um lugar ideal para esconder-se de Cristo, um lugar adequado para a idolatria de estátuas e louvação da deusa Diana (ou Ártemis) dos Efésios, conforme (Atos 19;23 a 35). Afinal, Cristo, a Graça, o Determinismo e a Predestinação não são convenientes, pois tornam desnecessários todos os intermediários entre Deus e os homens, impossibilitando o desenvolvimento desse cobiçado e rendoso segmento da economia mundial, além do forte comércio nos locais dos templos. (Mateus 21;12,13)
O resultado desses “imbróglios” é o reforço das convicções ateístas, o maior incremento da idolatria do racionalismo, porquanto esses segmentos associam, indevidamente, essas instituições e seus gestores, como se fossem representantes do verdadeiro cristianismo, o que, evidentemente, não corresponde à verdade. Todo esse contexto, evoluindo através dos tempos, construiu o dramático cenário que estamos contemplando, onde muitas pessoas se converteram ao ateísmo, afastaram-se dos valores éticos e morais, submetendo-se exclusivamente às conveniências do mundo material, livres do temor de Deus, livres também para agir conforme as suas exclusivas conveniências. Ao que tudo indica o cenário para a grande tribulação já está pronto, e já estamos percebendo os seus sintomas. (Mateus 24;15 a 28) A Humanidade já se encontra em estado de decomposição.