SOBRE CERTEZAS E GENERALIZAÇÕES
Nem todo carnaval é uma orgia romana, e nem toda missa é uma reunião de gente bem-intencionada...
Nem todo pobre é solidário, e nem todo rico é sanguessuga...
Nem toda gentileza é sincera, e nem todo silêncio é compassivo...
Nem todo amanhecer é poético, e nem todo crepúsculo é melancólico...
Nem toda criança é inocente, e nem todo idoso é sábio...
Nem toda crença é viável, e nem todo ceticismo é válido...
Nem tudo que brilha tem luz própria, e nem tudo que evolui o faz para o bem...
Nem toda declaração é uma verdade, e nem todo afago é um carinho...
Nem toda música é um alívio, e nem todo livro é libertador...
Nem todo crente é fanático, e nem todo ateu é descrente...
Nem todo abraço é caloroso, e nem toda ausência é dolorosa...
Nem toda distância separa, e nem todo ócio produz o mal...
Nem toda guitarra está sempre afinada, e nem toda língua está permanentemente afiada...
Nem todo estrangeiro é um estranho, e nem todo conterrâneo é um irmão...
Nem toda vilania é absoluta, e nem toda bondade é irrestrita...
Nem toda felicidade é mensurável, e nem toda tristeza é despropositada...
Nem todo tolo fala demais, e nem todo sábio é taciturno...
Nem toda balada fala de amor, e nem todo poema rima...
Nem toda mulher é uma Vênus, e nem todo homem é um fauno...
Nem toda infância é dourada, e nem toda adolescência é um martírio...
Nem toda verdade está no epílogo, e nem toda conclusão está no prólogo...
Nem todo ébrio é um pária, e nem todo sóbrio é um exemplo...
Nem toda festa é alegre, e nem toda oração é benigna...
Nem todo amizade é eterna, e nem todo inimizade é irreversível...
Nem todo sonho é possível, e nem todo devaneio é inútil...
Nem toda formalidade é adequada, e nem todo despojamento é indevido...
Nem todo réu chora, e nem todo juiz é imparcial...
Nem toda opinião é pertinente, e nem todo palpite é digno de desprezo...
Nem todo casamento é uma união, e nem toda união é oficial...
Nem toda beleza perdura, e nem toda estética é confiável...
Nem todas as palavras são divinas, e nem toda ordem é perfeita...
Nem tudo está no primeiro plano, e nem todo plano é unilateral.